num evento
por ANA DE FÁTIMA SOUSA
Especial para o JC
Durante as férias de julho, os paulistanos vão ter a
chance de conhecer um pouco da vasta cultura
popular pernambucana e brasileira. De 5 de julho a
1° de agosto, acontece o Encontro com a Dança e
Música Brasileiras no Teatro Brincante e Sesc
Ipiranga, ambos na capital paulista. Concebido pelo
o multiartista pernambucano, Antônio Carlos
Nóbrega, o encontro será um mega-evento com
espetáculos, palestra, mostra de vídeo, exposição
fotográfica e ofícinas. E o destaque é mesmo para
Pernambuco.
Nóbrega conta que a idéia do Encontro surgiu por
dois motivos. “Inicialmente, eu queria colocar dentro
do ângulo de visão paulista, um universo que é
muito pouco conhecido, mas extremamente
brasileiro”, explica. A segunda razão – conta o
artista – era abrir o Teatro Escola Brincante para a
cultura popular o que na verdade “sempre foi sua
vocação”. A intenção é fazer com que esta atitude
seja uma constante no Brincante.
Os artirtas envolvidos no projeto estão bastante
animados. O rabequeiro e compositor Siba (da
Banda Mestre Ambrósio) acredita que a iniciativa
amplia a visão de Brasil que as pessoas têm. “É
uma oportunidade excepcional de ver as caras
brasileiras que não estão nos grandes meios de
comunicação”, esclarece.
TOCADORES E INSTRUMENTOS – A programação
de espetáculos musicais privilegia os intrumentos e
instrumentistas brasileiros. Nas noites de
Orocongo, Rabeca e Violino, por exemplo, o público
poderá se deparar com o orocongo e talvez um dos
únicos tocadores desta rabeca de uma corda,
Gentil do Orocongo (Florianópolis – SC). Dos
intrumentos da família dos arcos, o orocongo
chegou ao país, através dos africanos e se enraizou
nas regiões sul e sudeste. É uma chance singular
de se familiarizar com uma parte da cultura
brasileira, quase que totalmente desconhecida.
O rabequeiro pernambucano Siba vai mostrar – pela
primeira vez – a sonoridade do seu instrumento,
sem os companheiros da banda Mestre Ambrósio.
Siba vai trazer direto de Condado (PE) para Sampa
um dos maiores rabequistas de Pernambuco, o
“seu” Luiz Paixão.
Antônio Carlos Nóbrega apresenta seu conceituado
espetáculo Madeira que Cupim Não Rói. E o jovem
músico Leandro Carvalho faz uma homenagem à
música de João Pernambuco.
As flautas que permeiam melodias brasileiras
também terão suas noites de encontro. Pífanos,
flautas transversais, gaitas de caboclinho vão se
unir com Edmilson do Pífano, Fernando Farias,
Daniel Alain e Eugênio Nóbrega.
Subirão aos palcos outras estrelas como os
violeiros Badia Medeiros, Ivan Vilela, Paulo Freire,
Roberto Correia e os pernambucanos Mocinha de
Passira e Oliveira de Panelas. Nas noites de
violada, Nóbrega vai mostrar um romance de Ariano
Suassuna, intitulado A Morte do Touro Mão de pau.
Haverá ainda espaço para Choros, Polcas, Valsas e
maxixes, valorizando a variedade musical que
influencia a arte dos brasileiros. “Será uma grande
festa. Uma folgança sem hora para acabar”,
anima-se o criador Nóbrega.
DANÇAS DO BRASIL – A presença de
Pernambuco não terá destaque apenas nos
espetáculos do evento. Dentre as três oficinas de
dança, duas terão como tema as danças
tipicamente pernambucanas. Gilson Santana (o
Meia-noite) e Vilma Moura ministram Macaratu,
Caboclinho, Passo do Frevo e Coco. Os dois
desenvolveram um belo trabalho com crianças e
adultos no Daruê Malungo – em Chão de Estrelas, e
agora trazem suas técnicas para os paulistanos.
O Cavalo Marinho será mote da oficina de Hélder
Vasconcelos do Mestre Ambrósio. “O objetivo será
criar uma relação entre as pessoas e o universo
que o cavalo marinho representa”, explica o
músico-bailarino. Segundo Helder além da dança,
serão trabalhados conceitos sobre a música e o
teatro que, no folguedo, se interligam e funcionam
como na única linguagem. “Para mim será uma
grande chance de poder falar sobre pessoas como
Mestre Glinário, Mestre Salu, Mestra Batista,
Mestre Biu Alexandre, Mestre Honório que foram e
são definitivas na minha formação” conclui Helder.
Se muitos acreditam que o sudeste não têm
tradições populares poderão se surpreender com a
oficina Danças Afro-brasileiros do Sudeste
ministrada pelo pesquisador Paulo Dias. Ele é um
dos criadores do grupo Cachuera, que faz
pesquisas e revive o jongo, congadas e batuques da
cultura popular afro-sudestina. Dias também irá
ministrar a oficina de música Tambores do Sudeste.
Igualmente imperdível.
INSTRUMENTOS VALORIZADOS – As oficinas irão
valorizar os intrumentos mais enraizados na nossa
cultura popular. O músico Zezinho Pitoco – que
acompanha Nóbrega – será o responsável por
Zabumba e Caixa, Triângulo e Ganzá. O
percussionista Eder “O Rocha” (também da Mestre
Ambrósio) será encarregado de ensinar seus
batuques na oficina Percussão do Maracatu Rural.
A intenção das oficinas musicais é fazer com que
as pessoas se aproximem dos intrumentos mais
brasileiros. “É impressionante observar que tanta
gente insiste em ocidentalizar a nossa música com
intrumentalização eletrônica, quando temos tanta
riqueza sonora nas nossas raízes”, critica Antônio
Nóbrega.
Segundo esta linha de pensamento, Nóbrega
estimulou a criação da oficina Choro. Segundo ele o
choro é uma música da maior importância na nossa
cultura, por navegar tão bem entre o dito erudito e
popular. “É ai que está o coração do país. Nós
criamos um abismo entre as diversas vertentes
culturais”, exalta.
O professor Fernando Farias vai encher o peito e
ensinar um pouco da sua arte na oficina Gaita de
Caboclinho. E a pesquisadora Lydia Hortélio vai
chamar a atenção para a sensibilidade com Uma
percepção musical para ouvir o Brasil. Uma
programação superbrasileira. De primeira.
Serviço:
As oficinas acontecem no Teatro Escola Brincante
e no Sesc Ipiranga. As incrições também podem
ser feitas via fax. Maiores informações: (011)
3340-2000 ou (011) 816-0575
Multiplicidade de sons vai encantar a
todos os ouvintes
Os espetáculos musicais do Encontro com a dança
e música brasileiras prometem momentos
emocionantes. Uma das grandes atrações das
noites Orocongo, Rabeca e Violino, que acontecem
nos dias 25 e 26 de julho – no Sesc Ipiranga (SP),
será a primeira apresentação solo do rabequeiro
Siba (do grupo pernambucano Mestre Ambrósio).
Siba já é reconhecido como uma das boas
revelações da nossa música popular. Além do
trabalho junto ao Mestre Ambrósio, as suas
composições estão na trilha do premiado filme
Baile Perfumado e sua rabeca poder ser ouvida no
também premiado e badalado Central do Brasil.
Siba está preparando surpresas para este evento.
“Estou como compositor e instrumentalista”,
antecipa.
Muito bem acompanhado, ele vai contar com os
talentosos músicos Célio Barros (contrabaixo
acústico) e Thomas Rohrer (rabeca), ambos do
quinteto Interchanges. E não é só. Siba vai trazer
ainda um convidado especialíssimo, o rabequeiro
pernambucano Luiz Paixão.
O baixista Célio Barros foi um dos vencedores do
último prêmio Visa de MPB instrumental e já tocou
com nomes como Roberto Sion e Nelson Ayres,
entre outros. Já o suíço Thomas Rohrer é violinista
e saxofonista e tem se destacado com seu trabalho
junto ao cantor e compositor Zeca Baleiro. Neste
show, Siba, Célio e Thomas tocarão composições
como A Roseira e Mamede (da trilha do Baile
Perfumado), de Siba e uma jam session, repleta de
improvisos.
Mas o momento mais envolvente do show, deve ser
a presença da rabeca de Luiz Paixão no palco.
Siba conta que teve a oportunidade de aprender a
arte da “rabeca” com grandes nomes como João
Salustiano, Manuel Salustiano (o Mestre Salu),
Mané Pitunga e Manuel Pereira, entre outros. Mas
foi do “seu” Luiz Paixão que ele herdou seu estilo.
“Estou emocionado por poder apresentar um
músico tão admirável ao público paulista”, explica
Siba.
Paixão vive na Zona da mata Pernambucana, no
pequeno município de Condado, onde é integrante
do grupo de cavalo marinho do Mestre Batista. No
final deste show Siba, Sérgio Cassiano, Hélder
Vasconcelos e Antônio Carlos Nóbrega irão
acompanhar Luiz Paixão para reproduzir um banco
de Cavalo Marinho. Uma pedida imperdível para
amantes da boa música e da cultura popular
brasileira.