Artistas em conflito
Eleições na Associação gera
discussão entre pintores,
gravadores e escultores
pernambucanos
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Kéthuly Góes
Da equipe do DIÁRIO
O clima não é dos melhores entre os artistas pernambucanos, às vésperas de mais
uma eleição de diretoria da Associação dos Artistas Plásticos Profissionais de
Pernambuco (AAPP-PE), que reúne pintores, escultores e gravadores de todo o
Estado. A insatisfação vem de vários setores, de alguns com nomes consagrado, dos
que começam a conquistar espaço no mercado e na mídia e até de um integrante da
atual diretoria que não se conforma com a falta de discussão sobre o pleito, a
inexistência de assembléias, o descumprimento do regimento interno e do estatuto
da classe. E as reclamações não param por aí: “não há mobilização para estimular e
colaborar com os artistas, muitos querem se cadastrar e não conseguem e, pior,
existem exemplos recentes de manipulação de informação e de poder de alguns
diretores atuais. Recentemente, dois monumentos foram erguidos no Recife e, mesmo
com valor acima de R$ 7 mil, não foi realizado um concurso público para escolha do
artista, de um projeto. Não fomos sequer consultados sobre o assunto”, denuncia
Antônio Braga, artista associado e um dos poucos a freqüentar a sede, na rua da
Aurora, onde mantém ateliê.
“Já que estamos caminhando para uma eleição, seria interessante discutir propostas,
avaliar o trabalho que vem sendo feito, mas, por mais que eu insista em realizar
assembléias, reunir a diretoria, eles ignoram o pedido. Ainda marcam a eleição para a
véspera de São João, dia 23, às 19h, 20 ou 21h, e no edital sequer dizem onde vai
acontecer a votação”, acusa Deus Sobrinho, pintor, escultor e diretor administrativo
da entidade.
As críticas dos revoltados vão mais além: “tem artista querendo entrar na
Associação e não consegue, mesmo cumprindo as exigências básicas de ter
participado de pelo menos três coletivas e realizado uma individual. Nós queremos
reativar as oficinas, dinamizar as atividades na galeria. Chegou-se até a produzir um
jornal para divulgação dos artistas, mas a edição foi barrada por parte da direção.
Nem as correspondências chegam a ser vistas por todos que frequentam a sede. Só
um dos diretores – o artista plástico Paulo Bruscky, presidente – tem a chave da caixa
postal. Por conta destas coisas e de outras que não são cumpridas no regimento, a
classe acaba desacreditada.”
Do outro lado, o atual presidente da casa defende que a agitação recentemente
formada se dá, especialmente, porque Deus Sobrinho não participa da única chapa
apresentada até o momento – encabeçada pelo produtor cultural Roberto da Silva-,
para o próximo pleito. Em letras garrafais, Bruscky diz que pode escrever que “não há
oficinas e cursos na AAPP-PE porque os projetos não são oferecidos para
apreciação. Deus sobrinho, inclusive, foi quem mais promoveu oficinas no local. A
Associação tem apresentado trabalhos de artistas locais para mostras no exterior e
deve receber, em pouco tempo, uma verba mensal da Fundarpe (R$ 600,00), como
ajuda de custo para a manutenção. Essa é uma conquista da atual diretoria”,
desabafa.
Paulo Bruscky adianta que não quis se envolver – além do necessário – nesta eleição.
“Como presidente, fiz minha parte e estou deixando a diretoria este ano”, anuncia o
artista. “Essa denúncia de artista querer se cadastrar e não conseguir é invenção. Se
não entraram é por que não atenderam às exigências. A correspondência vai para o
quadro de avisos e quem organiza é o diretor de comunicação, Isidoro. Em relação ao
boletim que eles chamam de jornal, pedimos o projeto para análise, e até hoje não
chegou. Falar que as coisas não estão acontecendo, que não movimentamos a
entidade, é fácil. Difícil é encontrar quem se disponha a trabalhar pela causa”.
O grupo garante que, em nenhum momento, pensa em atrapalhar as próximas
eleições. Ao contrário, quer garantir o debate para ver cumprido o estatuto. Um
panfleto, assinado por Deus Sobrinho, foi distribuído entre os associados e o
público em geral na semana passada, sugerindo a promoção de uma assembléia para
criação de uma chapa de consenso. Apesar da insatisfação dos artistas, que o diretor
administrativo diz serem muitos, a atual diretoria não se mobilizou para a realização da
reunião solicitada. “Quero ver um documento onde ele sugere esta reunião e nós
negamos”, desafia Bruscky.
“Qualquer eleição realizada sem o cumprimento do estatuto e do regimento interno
não será representativa da AAPP-PE, já que os associados não foram informados de
sua realização. A diretoria atual, incluindo-se aí o meu nome, há dois anos não se
reúne, sequer ordinariamente, na sua sede – rua da Aurora, 379 – Boa Vista.
Tampouco até a presente data (29/05/98) nenhuma Assembléia Geral foi realizada
para definir as eleições”, rebate Deus Sobrinho. O debate está lançado, e ainda
promete muitos lances emocionantes.
Fonte | Diário de Pernambuco | 09/junho/98 |