Baile Perfumado

Um baile à disposição

O filme pernambucano vencedor do Festival
de Brasília em 1996 chega finalmente às
locadoras de vídeo

Ernesto Barros
Especial para o DIÁRIO

Depois de uma triunfante passagem por festivais e
salas de cinema Brasil afora, o filme pernambucano
Baile Perfumado começa uma nova carreira. A partir
desta semana, a versão em fita do filme estará
disponível nas locadoras e em lojas especializadas (a
Aky Video encomendou 150 cópias à distribuidora
Sagres Rio Filmes). Em todo o país, um público pouco afeito aos cinemas, mas muito
ciente do conforto do lar doce lar, terá a oportunidade de assistir a um dos mais
badalados espécimens da produção cinematográfica nacional dos últimos dois anos.

Ao lado de Os Matadores, Um Céu de Estrelas e Central do Brasil, Baile Perfumado
fez com o que cinema brasileiro ganhasse novo fôlego, depois de um período de
sobrevivência vegetativa onde a produção de filmes praticamente foi abandonada.
Realizado pela dupla Paulo Caldas e Lírio Ferreira, o filme colocou Pernambuco e o
Nordeste em evidência no mapa cinematográfico brasileiro. Sem dúvida, foi
alavancado pela zoeira da mangue beat e por uma pequena porém vitoriosa produção
local de curtas-metragem que lhe antecederam (como Maracatu, Maracatus, de
Marcelo Gomes, e That’s a Lero-Lero, de Amin Stepple Hiluey e Lírio Ferreira).

Baile Perfumado iniciou sua trajetória de sucesso quando foi apresentado pela
primeira vez no Festival de Brasília de 1996. Saiu de lá abarrotado de prêmios: melhor
filme, direção de arte (Adão Pinheiro) e ator coadjuvante (Aramis Trindade) pelo júri
oficial, e os prêmios da crítica, Unesco (para diretores estreantes) e do Centro de
Pesquisadores do Cinema Brasileiro. Da exibição do Festival até a sua exibição
comercial nos cinemas, no ano passado, Baile Perfumado recebeu todos os elogios
públicos possíveis. Foi capa dos principais cadernos culturais dos jornais brasileiros
e a maioria da crítica o escolheu como o melhor filme de 1997.

Pode-se dizer que a história de Baile Perfumado é um verdadeiro achado. Conta a
saga de um personagem de estatura cinematográfica, isto é, cuja vida foi tão intensa
e rocambolesca que clamava para ser impressa num filme. Na verdade, o mascate
Benjamim Abrahão faz parte da história do cinema brasileiro. Afinal, as imagens que
ele captou do bando de Lampião são relíquias do documentário brasileiro. Nos anos
60, serviu de base para Paulo Gil Soares realizar Memórias do Cangaço. Além disso, a
trajetória de Abrahão sempre permaneceu envolta em mistério, com poucos
pesquisadores se debruçando sobre a vida dele. O texto mais conhecido é de autoria
de José Humberto Dias, publicado no primeiro Caderno de Pesquisa do Centro de
Pesquisas do Cinema Brasileiro.

A história desenvolvida por Paulo Caldas, Lírio Ferreira e Hilton Lacerda refere-se
justamente às aventuras protagonizadas por Benjamin Abrahão para filmar Lampião e
seu bando e depois ver aquelas imagens numa tela. A partir de uns flashbacks e
alguns detalhes explicados na trama, o espectador é informado de que o imigrante
libanês era uma figura envolvente e ambiciosa. Foi secretário particular do Padre
Cícero Romão. Através de Abrahão, Paulo Caldas e Lírio Ferreiralançam uma nova luz
sobre a história brasileira. Mesmo sendo Lampião figura fortíssima, eles nunca cedem
espaço desnecessário ao mitológico personagem, mas, em contrapartida,
apresentam-no com uma roupagem completamente diferentemente da que já
conhecíamos no cinema.

A câmera como personagem
Distribuidora de importância
Trilha sonora

Fonte Diário de Pernambuco 13/junho/98