Festival de Inverno de Garanhuns

Reforço para as artes cênicas

Festival de Inverno de Garanhuns aposta em atrações fortes, como a
multiartista Denise Stoklos

Ivana Moura
Da equipe do DIÁRIO

Direto da África do Sul, a atriz e mímica Denise Stoklos aterriza, em Garanhuns, no dia
25 de julho, para encerrar a programação cênica do VIII Festival de Inverno.
Desobediência Civil é o título do espetáculo, que realiza o último discurso do milênio.
A multiartista (ela adaptou, dirigiu e interpreta) já avisou que o espetáculo é dirigido
aos não-neoliberais, projetado para as esperanças do futuro que se anuncia. Em
Desobediência Civil, Stoklos prega que é preciso fazer a coisa certa e refletir se a vida
pode ser melhorada. Para realizar o ensaio rebelde do escritor americano Henry David
Thoreau, a criadora do teatro essencial trocou uma apresentação do espetáculo em
Nova York por Garanhuns e dará uma pausa na turnê pela África do Sul. O FIG
acontece de 17 a 25 de julho.

Além de Stoklos, o Festival oferece quatro espetáculos para o público adulto, um
para platéia juvenil, sete infantis, três de dança, uma aula-espetáculo com Ariano
Suassuna, uma peça de rua e outra de bonecos, exibições de capoeira e reisado.
Também está programado o espetáculo Circo da Madrugada, com o Caminhão
Trapézio, dirigido pelo francês Pierrôt Bidon, com trapezistas do Circo-Escola
Picadeiro. Ao todo são 22 atrações na área de artes cênicas. Neste ano, a Fundarpe
reservou para si a escolha de todos os participantes.

“Optamos por um perfil moderno para a área de artes cênicas”, explica a
coordenadora Simone Figueiredo, que junto com Andréa Soares fez a seleção.
“Estamos atendendo as reclamações do público de arte cênicas, que se sentiu menos
prestigiado frente à programação forte na área de música”, ressalta o presidente da
Fundarpe, Jair Pereira.

Presença constante em anos anteriores, a Associação de Circo, dirigida por Índia
Morena, ficou de fora. Motivo, segundo Pereira: não apresentou nenhuma projeto
inédito para o Festival. “Decidimos não contemplar”. Em compensação, o Caminhão
Trapézio vem como uma novidade para encher os olhos. Controlado eletronicamente,
o caminhão trapézio tem 30 metros de comprimento e 16 metros de altura. Os 10
artistas da equipe são trapezistas do Circo-Escola Picadeiro de São Paulo.

MONTAGENS

Novas propostas, busca de linguagens mais arrojadas e experimentações estéticas e
ineditismo em Garanhuns nortearam a escolha, segundo a coordenaria de artes
cênicas. O custo desta área fica em torno de R$ 70 mil, “um verdadeiro milagre”,
segundo Simone Figueiredo. A renda da bilheteria (que custará entre R$ 1,00 e R$
2,00) será revertida para comprar cestas básicas para os flagelados da seca (pela
Cruzada de Ação Social do município). Entre as peças estão uma homenagem a Luiz
Gonzaga, com Tributo a Lua, com direção de Marco Camarotti; a pesquisa estética da
Companhia Teatro de Seraphim, com Lima Barreto ao Terceiro Dia, com direção de
Antonio Cadengue e As Preciosas Ridículas, um texto de Molière, com direção de
Marcondes Lima.

Entre os infantis estão A Flor e o Sol; O Príncipe dos Mares de Olinda contra a Fúria
das águas; As Aventuras de um Dinossauro Apaixonado; Jacaré Espaçonave do
Céu; O Menino Maluquinho e Chapeuzinho Vermelho. Garanhuns é representado por
As Loucas, o espetáculo de dança Soneto, o infantil João Barriga Verde no Reino de
Cristal e o juvenil No Meio do Mundo.

A linguagem da dança é defendida pelo mangue e pelo armorial. Zambo, de Mônica
Lira e Sonaly Macedo, mostra a coreografia do movimento mangue, de Chico Science
e Fred Zero Quatro. E Pernambuco do Barroco ao Armorial exibe a busca de uma
dança brasileira, idealizado pelo escritor Ariano Suassuna, a partir de músicas de
Capiba e um Te-Deum do compositor pernambucano do século XVIII, José Álvares
Pinto.

Das peças selecionadas, O Menino Maluquinho segue pela segundo vez para
Garanhuns e não nenhum privilégio do grupo. A encenação, que também foi
escolhida no ano passado , não chegou nem sequer a se apresentar, por problemas
técnicos e estruturais do FIG. Para evitar que esse tipo de coisa se repita, Jair Pereira
dividiu as coordenadorias por áreas: Germana Siqueira está responsável por
literatura, Alexandre Nóbrega por Artes Plásticas e música é formado por um pool
(África, Papaleo, Fundarpe e Prefeitura de Garanhuns). “Vamos levar uma equipe de
30 pessoas, todos comprometidos com alguma função”.

Para os espetáculos que se apresentam no Teatro Alfredo Leite Cavalcanti, as
dimensões da casa também contaram na hora da escolha. “Pensamos em trazer outras
peças de outros centros, mas a estrutura do teatro não permitiu”, ponderou Simone.
O palco mede 8m x 8m e o teatro comporta 800 espectadores.

Os espetáculos

Tributo à Lua

De Marcos Macena. Direção Marco Camarotti.

O espetáculo homenageia o rei do Baião, Luiz Gonzaga. Lua via ao céu e é julgado e
absorvido por Deus.

A Flor e o Sol

Texto de Cícero Belmar. Direção: Manoel Constantino.

O infantil mostra o enamoramento de uma flor delicada pelo Sol.

Lima Barreto ao Terceiro Dia

Direção de Antonio Cadengue. Com a Cia. Teatro de Seraphim.

Lima Barreto rememora sua vida de agonia. A montagem questiona os mecanismo do
manicômio e o processo da loucura humana.

O Príncipe dos Mares de Olinda contra a Fúria das Águas

Texto, direção e cenário de Vital Santos. Figurino de Eduardo Ferreira.

O musical enfoca a procura por uma cidade dos sonhos: O Olinda.

Zambo

Direção de Mônica Lira. Coreografia Mônica Lira e Sonaly Macedo.

O movimento mangue ganha sua expressão coreográfica com o espetáculo do Grupo
Experimental.

João Barriga Verde no Reino de Cristal

Espetáculo infantil de Garanhuns. Mostra a história de um defensor da natureza, que
luta para salvar a floresta onde vive.

Soneto

Texto de Gustavo Rangel. Direção, coreografia, figurino e sonoplastia de Josimar
Araújo.

Espetáculo de dança contemporânea de Garanhuns, que explora as variadas facetas
do relacionamento a dois.

As Aventuras de um Dinossauro Apaixonado

Texto e direção: Ivaldo Cunha Filho. Direção musical: Allan Sales.

Nos domínios do Reissauro, que governa uma floresta nativa, sua filha raptada pelo
vilão Pterodáctilus. Um dinossauro apaixonado corre para salvar a princesa.

As Loucas

Direção: Breno Fitipaldi.

Um triângulo amoroso. Depois do sepultamento de um homem, duas amigas se
encontram e é revelado o duplo relacionamento do falecido.

Jacaré Espaçonave do Céu

Texto de Zé Luca e Carlos Lagoeiro. Direção de José Manoel.

Cansada de contar carneirinhos e não conseguir dormir, Margarida Perereca resolve
contar jacarés. Sonha que o homem chegou à Terra na barriga de uma espaçonave,
em formato de jacaré. Quando acorda, recruta seus amiguinhos para construir a nave.

A Preciosas Ridículas

Texto: Molière. Direção, figurino, cenário, maquiagem: Marcondes Lima

Duas primas interioranas dão demasiada importância ao comportamento da alta
classe. E tentam imitar os trejeitos dos fidalgos. Mas terminam cometendo inúmeras
gafes com dois ilustre pretendentes.

Menino Maluquinho

Texto: Ziraldo. Adaptação: Fátima Ortiz. Direção: Cristiano Lins.

Maluquinho é um garoto esperto. Ambientado nos anos 60, o protagonista leva uma
vida suburbana e de brincadeiras.

No Meio do Mundo

Texto: Breno Fittipaldi. Direção Pacheco neto.

Baseado na obra de Clarice Lispector. Enfoca temas como marginalidade, cidadania e
violência social.

Aula-espetáculo

O secretário de Cultura de Pernambuco, Ariano Suassuna, defende sua visão da
cultura brasileira, com direito a muitas tiradas humorísticas.

Chapeuzinho Vermelho

Adaptação, direção, cenário, figurino de Uziel Lima

Nesta versão musical do clássico infantil de Charles Perraut, o lobo não é tão mal,
mas vive inventando receitas para comer a vovozinha.

Pernambuco do Barroco ao Armorial

roteiro musical de Ariano Suassuna. Direção: Marisa Queiroga. Coreografia: Heloísa
Duque. Cenário e figurinos: Dantas Suassuna.

O espetáculo revela a linguagem da dança brasileira, defendida pelo escritor Ariano
Suassuna. O repertório reúne um cântico em ação de graças de Luiz Álvares Pinto,
composta em 1760 e músicas de Capiba.

Desobediência Civil

Texto: Henry David Thoreau e Denise Stoklos. Concepção, interpretação,
coreografia, trilha sonora e direção geral: Denise Stoklos.

Solo com Denise Stoklos. Minutos antes do ano 2000, as idéias do escritor e filósofo
revolucionário americano Henry Thoreau são defendidas na performance de Stoklos.

Um Bonde Chamado Lilás

Roteiro e direção de Gigi Bandler.

As Loucas da Pedra Lilás questionam as possibilidades de cidadania. Para onde
vamos ou para onde caminha este país, é a pergunta.

Caminhão Trapézio

Diretor: Pierrôt Bidon. Diretor Técnico: José Wilson.

O Caminhão Trapézio, espetáculo do Circo da Madrugada, conta com equipamenteos
modernos, controle eletrônico com levantamento dos mastros e extensores.

Fonte Diário de Pernambuco 13/junho/98