Camilla Roberta Vila Nova
Cenário de identidades e caras diferentes, o Brasil tem em sua cara formas de expor seu povo em cores, onde tudo se mistura, num presente, passado almejando o futuro. No processo de construção das identidades, a literatura e a tradição popular foram por diversas vezes interpretadas de maneiras erronias; ás vezes, também confrontadas, porém sempre caminharam juntas em busca da tradição de aspectos marcantes do popular, fosse de visão elitista ou popular. A marca ou cara do Nordeste é facilmente representada pela seca, migração e misticismo, isto se deve a fatores climáticos, que lhe conferiu identidade própria, uma espécie de significação imaginária, também tida como a mãe da região. O que cobre uma verdadeira estrutura socialmente politizada, exploração e miséria, inerentes ao tempo e espaço . Uma das principais conseqüências dessa representação foi à migração. O retirante significava a tentativa de superar a miséria que, pelo fato da seca e estiagem serem consideradas obras naturais e religiosas que com isto minimizava o papel das injunções políticas, econômicas e sociais. Em outras instâncias foi atribuído a Deus, a condição vivida no Nordeste, no entanto esse fato gera contradição: Como o Deus que prega vida deixaria tantas pessoas morrerem? Neste momento faz-se necessário relacionar os sentidos dos romances Vidas Secas de Graciliano, Essa Terra de Antônio Torres e Caldeirão de Cláudio Aguiar, em que mostram as caras identificadoras do Nordeste, vigentes à época, onde dominados e dominantes são colocados de formas centradas na desmistificação de idéias inoportunas e conscientizar a população do real responsável pela identidade tida em momentos como mãe da terra: a seca. Em Vidas Secas, o autor mostra como os dominados vêem a seca, um mal necessário, algo religioso natural, para tanto apresenta o personagem Fabiano num passado e futuro em que o presente de miséria e fome leva-o a sentir-se um incapaz. A autora deixa em evidência sua opinião sobre a idéia de serem causas históricas em que as mudanças dessas realidades que dependem de interferências em estruturas e relações sociais de produção. Caracterizando sua obra sem dar muitos nomes aos personagens, Graciliano Ramos denúncia um sentimento de impotência e falta de educação formal de seus habitantes, simbolizando Fabiano como o povo e colocando o personagem do soldado amarelo como o governo, numa dinâmica de meio século entre ignorância e acomodação. Essa Terra, de Antônio Torres, descreve a migração do nordestino, a substituição de valores, que atendem aspirações de poucos, usando a simbologia de um lugar como Junco (Nordeste) para mostrar o fim da era rural e a aceleração dos processos de urbanização e industrialização, juntamente com a quebra do isolamento propiciando a industrialização, numa contínua aspiração de migrar, deixando mesmo a família que significava tanto a moral (pai), quanto às vontades (mãe). Em Caldeirão, de Cláudio Aguiar, a narrativa do povo denunciando a amargura de povos impedidos de cultivar senão pela vontade dos dominadores numa nação com excesso de chão, reforça a idéia de Graciliano quando descreve a relação entre dominados e dominantes, nesta obra Cláudio expõe o fato das palavras liderarem os dominados por estes não terem formas de expressão contundentes quanto os outros. Denuncia um abismo entre povo e governo onde uma reforma agrária seria incompatível como mostra o próprio livro Caldeirão.
Os três romances denunciam, expõem e criticam as relações de controles, dominação de identidades, cenário de diferentes ângulos, mas que retomam ao mesmo centro, o fazer-se necessário reformas estruturais para quebrar o controle de terra, concentração de capital e poder político.