JORNAL PERNAMBUCANOS IMORTAIS

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Dezembro 2005 – Ano 1 – Nº 01
O TEATRO FEITO POR NEGROS NO BRASIL 

Camilla Roberta Vila Nova*

1 INTRODUÇÃO  Para abrir o caminho ao tema apresenta-se aqui o dilema que envolve o contexto brasileiro, a cerca da questão do negro: “De que se fala quando se fala negro? Da cor do dramaturgo ou do ator? Do tema? Da cultura? Da raça?”. Essas perguntas pressupõem seu amplo campo de investigação, um território minado por evasivas. Através da indefinição conceitual a cultura negra procura os intervalos para se reafirmar. Da mesma forma, quando um conceito se fecha atribuindo valor negativo ao negro, o antagonismo claro oferece um apoio para a resistência. É preciso, portanto, falar de tudo, porque são esses entrecruzamentos que formam, em última análise, a “organização da representação”. Sendo, a princípio, uma estratégia de sobrevivência, a teatralidade transforma-se em uma forma peculiar e assertiva de produção artística. Ao constituir-se intencionalmente como arte o Teatro Negro será uma escritura polimórfica, associando à teatralidade singular africana ao signo verbal do discurso dominante. 2 A HISTÓRIA DO TEATRO NEGRO NO BRASIL A origem do teatro pode ser remontada desde as sociedades primitivas, em que acreditava-se no uso de danças imitativas como propiciadores de poderes sobrenaturais que controlavam todos os fatos necessários à sobrevivência (fertilidade da terra, casa, sucesso nas batalhas etc), ainda possuindo também caráter de exorcizar dos maus espíritos. Portanto, o teatro em suas origens possuía um caráter ritualístico. No Brasil, o teatro tem sua origem com as representações de catequização dos índios.  As peças eram escritas com intenções didáticas, procurando sempre encontrar meios de traduzir a crença cristã para a cultura indígena. Uma origem do teatro no Brasil se deveu à Companhia de Jesus, ordem que se encarregou da expansão da crença pelos países colonizados. Os autores do teatro nesse período foram o Padre José de Anchieta, e o Padre Antônio Vieira. As representações eram realizadas com grande carga dramática e com alguns efeitos cênicos, para a maior efetividade da lição de religiosidade que as representações cênicas procuravam inculcar nas mentes dos aborígines. Nesta época o teatro no Brasil, estava sob grande influência do barroco europeu. Ao fim do século XVIII, as mudanças na estrutura dramática da peças foram reflexo de acontecimentos históricos como a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Surgiram formas como o melodrama, que atendia aos gostos do grande público. Muitos teatros surgiram juntamente com esse grande público. No século XIX as inovações cênicas e infra-estruturais do teatro tiveram prosseguimento. O teatro Booth de Nova York já utilizava os recursos do elevador hidráulico.  Os recursos de iluminação também passaram por muitas inovações e experimentações, com o advento da luz a gás. Em 1881, o Savoy Theatre de Londres foi o primeiro a utilizar iluminação elétrica. Os cenários, assim como os figurinos, procuravam reproduzir situações históricas com um realismo bastante apurado. As sessões teatrais, em que outrora encenavam-se várias peças novas ou antigas, foram passando a ser utilizadas apenas para a encenação de uma peça.  O formato primitivo de teatro no Brasil, o auto, representou por muito tempo, a única, forma de expressão dramática encontrada, como Frei Domingos Vieira os considerava como a única forma de literatura dramática. Eram caracterizados por sua forma popular em meio às ruas e sua instabilidade, favorecendo a mudança de lugar, encenados em épocas de Natal e Corpus Christi com muito movimento, danças que consistiam em assuntos hieráticos.  Houve, contudo quem os satirizassem, dando pouco a pouco outro sentido, como Gil Vicente cujo significado foi importante acervo documental para o estudo sobre a sociedade portuguesa na época. Tendo como o orientador José de Anchieta o teatro brasileiro foi o verdadeiro primitivismo dos autos no Brasil, não ao modo de Gil, mas como os franceses do fim da Idade Média e de assunto religioso, pois sobrepunha-se a catequese, conhecidos os mais documentados como a pregação universal realizado na praça ao lado da igreja. Pernambuco foi o terceiro estado a fazer teatro através dos autos dos jesuítas ao tempo do governo avarento e o lazaro pobre, a assim através dos autos de Anchieta, caboclos e portugueses contribuíram para a formação do teatro no Brasil. Não tendo muita influencia sobre a religiosidade como os portugueses o negro fugia ao temas mas exibiam em suas representações no Natal e nas festas de Reis. 

Classificados outrora como chegança ou até mesmo fandangos (Pernambuco), mas estes originalmente e historicamente são luso-hespanhola, que em alguns recitais percebe a presença Ibérica.

“arriba, gageiro, arriba meu gageirinho real, vê se vês terras de Espanha,

areias de Portugal”.

Ocorre, ainda a origem do drama negro brasileiro surge das profundidades da cultura africana.

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