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Dezembro 2005 – Ano 1 – Nº 01 | ||
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Por Don Antonio Os órgãos culturais não se entendem: falta sincronização e articulação entre a Fundação de Cultura Cidade do Recife e Fundarpe (estado): Recife paga por isso. Sem falar em outros órgãos estaduais e municipais que trabalham paralelamente e com duplicidade de atuação. Vejamos: RECIFE ANTIGO – Um projeto equivocado, embora feito com “planejamento”, privilegiou os bares e restaurantes esquecendo das ações e atividades culturais. Anos atrás a Revista Veja chegou a fazer uma matéria comparando o projeto do Recife Antigo com o Pelourinho em Salvador. Estive em Salvador na época e constatei o que a revista descobriu: enquanto o Pelourinho vive 24 horas o Recife mal funcionada 6, 8 horas. No Pelourinho existem muitas entidades culturais e ongs, que estão ali alojadas, com muitas atividades. É uma grande efervescência. Recife? Puft! Me lembro de ter assistido na Tv Globo, no ano passado, um diretor da Prefeitura do Recife dizendo que o Recife Antigo não é uma prioridade. Por isso o abandono, muitas casas fechadas, falta de atividade cultural. O que existe, é particular. CENA MUSICAL PERNAMBUCANA – Tudo acontece ladeira a baixo por contas dos artistas e técnicos em atividade musical. No setor, uma flagrante falta de planejamento e entrosamento entre os órgãos municipais e estaduais. É fato comum sermos um grande celeiro musical para o Brasil. Uma reserva técnica. A herança de Chico Science é mal administrada. Mas somos os melhores e os maiores. Basta lembrar que mais de 500 bandas se inscreveram para o Abril pro Rock, um dado incrível. Fora as bandas de Brega, Forró eletrônico e clones de axé music, que não tem nada a ver com a nossa cultura, mas, importantes porque abriram um mercado de trabalho para músicos, técnicos, artistas afins. A coisa é tão flagrante que até hoje não existe um curso de canto em Pernambuco. Falta de visão. TEATRO PERNAMBUCANO – Como disse Romildo Moreira, ator e diretor de teatro local, Pernambuco goste ou não, tem um teatro próprio, de autoria pessoal: o teatro debochado e escrachado da arte cênica tipo Trupe do Barulho (leia-se Cinderela, Jason Wallace). O público se acostumou tanto, que liga para o teatro perguntando se “hoje tem espetáculos com bichas”. É pejorativo, apelativo, pornográfico até, mas atende um nicho do mercado (para falar em economês). Se tem público, por que ignorá-lo. Aí entra a questão da capacitação. Lembrando que o único curso oficial de teatro, foi encerrado pela Universidade Federal de Pernambuco provando que também não tem visão. O melhor curso, hoje, é o do Sesc de Santo Amaro. CINEMA E VÍDEO – Fala-se tanto em cinema pernambucano, um arremedo de boom que está acontecendo, mas os orgãos culturais municipais e estaduais não estão nem aí. ARTES PLÁSTICAS, ARTESANATO ETC. – Salão oficial do Museu do Estado, Salão dos Novos, Bienal de Artes Plásticos… O que é isso? Nem precisa comentar… Um dos coordenadores da Fenneart (Feira do Artesanato), evento bem sucedido do governo do estado, se esqueceu de divulgar na Feira que tinha uma home page. Pior: a home page sequer tinha os nomes e os trabalhos de todos os participantes da feira (cerca de 500). Pior ainda: na época, o site da Addiper, patrocinadora do evento, nem falava na Fenneart. Mais pior ainda: o tal coordenador me falou que antigamente existia um local para os artesãos do interior se hospedarem e outro local para negociaram. O governo acabou com isso. Quando eu era Diretor, interino, de Indústria e Comércio da Prefeitura de Paulista, ouviu da própria boca de um diretor da Addiper, um boyzinho: “temos que incentivar o intermediário”. Uma heresia, num momento em que precisamos valorizar o artesão, não o atravessador. POLÍTICA CULTURA E PLANO DIRETOR – Há dezenas de anos que reclamos a falta de uma política cultural a nível de estado e do município, e, mais ainda, um Plano Diretor Quadrienal. Como eu disse, se trabalha por demanda. Tanto a FCCR como a Fundarpe nem acompanham o que acontece à sua volta. Não há articulação. Até a própria estrutura é engessada, embora tenhamos grandes profissionais lá dentro. A falta de articulação e de um plano diretor, daria um novo alento à produção cultural, que , afinal , é um grande negócio.
SUGESTÕES – A nível estadual: ou existe a Fundarpe ou a Secretaria de Cultura do Estado. Se a Secretaria é de Educação e Cultura, trabalha-se mais a educação do que a cultura. Cultura hoje é negócio, coisa de profissional.
* Frevódromo – Ou Forródromo. Instalação de uma grande praça de eventos, com arquibancada, em parceria com um município, com capacidade para mais de 100 mil espectadores, permitindo que tenha bilheterias. Poderia ser no Complexo de Salgadinho, no antigo pátio ferroviário na Cruz Cabugá, nas áreas inservíveis hoje do Porto do Recife, ou em Jaboatão ou Olinda. É necessário. Imprescindível. Um dia vamos ter que fazer isso. Façamos logo! Pessoalmente acho que os Festejos Juninos envolve mais a sociedade. As quadrilhas precisam de um local de exibição (ver Boidródomo em Parintins…) * Um Plano Diretor Quadrienal, montado com a participação da sociedade organizada e que tenha a participação de representantes das ongs. Eventos como o Carnaval, São João, Natal e até o provável finado Recifolia, precisam de um planejamento integrado, mas acabando com o paternalismo. Pessoalmente sou contra o incentivo financeiro dado às entidades carnavalescas, que terminam virando migalhas. Sim, muitas vão acabar. Mas só vão sobreviver quem estiver antenado com o século 21. Entretanto, agremiações seculares precisam de incentivo para sobreviver (seria a exceção). Os artistas precisam de local para trabalhar, se organizar, mostrar seu trabalho. Temos uma Casa da Cultura que não tem artesãos, por exemplo. Um Centro de Convenções com espaços ociosos. A estrutura existe. Faltam criatividade, originalidade, competência e ousadia. NB: O ano passado, assisti, num sábado, a 3 eventos na Praça Artur Oscar (onde tem a Torre Malakoff), por 3 entidades diferentes. Existiam 3 palcos, 3 sistemas de som, 3 sistemas de luz. Bastava um palco… Essa falta de articulação aumentam os custos operacionais. A GALERIA DO MALTADO, tem mais de 60 anos em Recife, e, provavelmente, é a mais antiga lanchonete do Recife. Famosa por seu maltado especial, cuja receita só os donos conhecem, saiu da sede original e está hoje na Rua do Bom Jesus. Recentemente, o neto do primeiro dono, Jorge, me disse que em Janeiro várias casas do Recife Antigo, vão fechar, cansadas da inoperância da Prefeitura. Ele não entende (e eu também não), por exemplo, por que a Torre de Malakoff só abre as 3 horas. Ele me informou que não tem mais ônibus de turistas parando no Recife Antigo, e que tem informações de que o pessoal das agências não programam mais aquele bairro. O vazio é total. O Arsenal do Chopp vai fechar em Janeiro. Quem chega numa sexta ou sábado a noite, vê o fracasso do projeto. Enquanto isso… O Pelourinho, em Salvador, teve uma concepção diferente. Existem bares, restaurantes, casas de shows, museus, muitas ongs instaladas, bancos, joalherias, tudo funcionando a qualquer hora. |
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