Por Walter Jorge de Freitas
Ao colocar em prática o que determina a Lei de Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco, o Gov. Jarbas Vasconcelos acaba de reparar uma grande injustiça que os poderes públicos cometiam com os nossos artistas, seja de que ofício for, e, ao mesmo tempo, demonstra juntamente com a sua equipe, a preocupação com aqueles que se dedicam à divulgação do nosso Estado, que inclusive, é muito rico em se tratando de valores culturais.
A supracitada Lei tem a finalidade de contemplar com bolsas vitalícias, pessoas ou grupos populares que, de forma contínua e comprovada, vivem da arte. Esses artistas, na maioria dos casos, não têm o devido cuidado com seu futuro e ao envelhecerem ou serem acometidos de alguma doença que os deixe inaptos para continuar trabalhando, enfrentam grandes dificuldades de ordem financeira e passam a levar uma vida que não condiz com o que eles representam.
São incontáveis e entristecedoras as notícias sobre grandes nomes do nosso meio artístico, que envelheceram ou ficaram doentes e, além do castigo imposto pelo esquecimento do grande público, ficam na dependência da ajuda de amigos, admiradores e colegas para sobreviverem, o que não é digno nem justo.
Há, mais ou menos seis anos, eu estava no consultório de um médico cardiologista de uma clínica bem conhecida da nossa capital. O telefone chama, o médico me pede licença, atende, conversa por uns dez minutos com a pessoa que estava do outro lado da linha e ao retomar o diálogo comigo, diz tratar-se de um paciente bastante conhecido no nosso meio artístico. Era cantor e compositor, inclusive, de belas páginas musicais feitas para os carnavais recifenses, que estava atravessando momentos difíceis.
Ainda durante a nossa conversa, ele falou de outros nomes também famosos que estiveram sob os seus cuidados profissionais, muitos deles, sem as condições que lhes proporcionassem o tratamento médico-hospitalar que o caso exigia, por falta de recursos financeiros ou de um plano de saúde. Muitos eram tratados como indigentes.
Quando li a lista com os nomes dos primeiros contemplados, um me fez o coração bater mais forte. Refiro-me a Francisco Soares de Araújo (Canhoto da Paraíba) conterrâneo do meu amigo e seresteiro da melhor qualidade, Roque Rodrigues, que hoje curte a sua merecida aposentadoria em Boa Viagem, onde sempre o encontro, na maior tranqüilidade. Ouvi Roque falar de Canhoto várias vezes. E, já que citei Canhoto, o seu CD, PISANDO EM BRASA, lançado pela KUARUP, é daqueles que a gente não se cansa de ouvir. Hoje, o escutei três vezes. Lamento não conhecê-lo pessoalmente.
Faço votos, para que outros governantes adotem medidas ou leis, como fez o Governador Jarbas, e de forma justa, sem paternalismo, procurem retribuir tudo o que os nossos artistas fizeram ou fazem , elevando o nome da nossa Cidade, do nosso Estado e da nossa CULTURA, dando-lhes, ao menos, uma velhice sossegada, capaz de abrandar os males causados pela ausência dos palcos, das exposições, das festas populares e, principalmente, pela falta dos aplausos de que sempre foram merecedores quando estavam em plena atividade. Não se trata de favor. É questão de justiça.
Pesqueira, 31 de dezembro de 2005.