::::: Literatura virtual : 10 contos de rés :::::

Não era ficção. Queria mesmo matar. Não suportava mais a atual situação. Uma questão de vida ou de morte, não a dele, claro. Mas da vítima. Mais que um desejo simples de matar… Além do mais fizera um alto seguro de vida recíproco: um milhão de dólares para qualquer um que sobrevivesse. Era uma tentação e um grande motivo! Muito bem. No filme tudo funcionava às maravilhas. O cara queria matar alguém e BUM!, caía a vítima. Era fácil. Vamos ver os métodos disponíveis: Veneno. Como adquirir? Qual tipo de veneno era mortal mesmo? Em quanto tempo funcionava? Era indolor, deixava sequelas, pistas? Não, química nunca foi o seu forte. E uma coisa ficou logo claro: O assassino não poderia ser visto pela vítima. Assim, estrangulamento, porrada, facada ou outros processos de curta distância estavam afastados.  Então, teria que usar uma arma de média distância: Arco e flecha, apesar de romântico, era ridículo. Só podia ser arma de fogo: Revólver, Pistola, Rifle… Muito bem, a vítima morreria com um tiro. Aonde? No coração, claro, o que implicava que o atirador tinha que ser bom. Não, tinha que ser na cabeça. Tinha que ser um tiro fatal onde a bala fizesse o maior estrago. Lera numa revista que a bala tinha que ser uma “hotpoint”, um projétil com a ponta achatada e oca: onde entrava arrancava o que tinha pele frente. A vítima morria, no mínimo, de hemorragia. Gostou da idéia: a bala dolorosa, penetrando, lá dentro; o buraco grande na saída, muito sofrimento. E a morte vinha, desesperada… Evidente que o assassino teria que descarregar a arma na vítima para caracterizar estado de alta emoção. E, agora, como consumar o ato? Sabia todos os passos da vítima, afinal, era a sua própria esposa. Como não podia deixar pistas, o jeito era arranjar um assassino profissional. Onde conseguir e quanto iria custar? Afinal, esse tipo de profissional não se arranja na lista telefônica. Também não poderia perguntar a qualquer pessoa. É. Matar é mesmo para profissionais. Vestiu uma roupa discreta e saiu poraí. Poraí significa: ir para um local barra pesada. E foi. Não teve coragem e sim muito medo: Afinal, quem iria dar uma informação dessa a uma pessoa estranha? Era a maior sugesta! Os dias se passavam e ele não conseguiu resolver esse crucial e vital problema. Afinal, partiu para execução própria. O negócio era não dar pista, assim foi comprar uma arma. Exigiram identidade, cpf, documento militar, folha corrida e tantos trecos que ele desistiu. Se lembrou que numa feira popular na cidade vizinha vendiam armas de caça; espingardas e pistolas soca-soca. Armas medievais de carregar pela boca, usando chumbinho. Mas eram fatais, claro! Aí foi fácil: comprou uma pistola soca-soca de dois canos mais a munição. O negócio era preparar o momento. A ocasião! Claro! Do ponto de ônibus até a sua casa, era quase um quilômetro. Ele sabia a hora que ela chegava, tarde da noite. Tocaiava ela, dava os dois tiros de soca-soca no escuro (não havia poste de iluminação no trajeto), corria, pulava o muro dos fundos e ia se deitar. A empregada nem iria perceber que ele saíra. Iria ser naquela noite. Mais ou menos lá pelas 10 da noite, sua esposa salta do ônibus. A arma carregada com chumbo grosso, puxa os dois gatilhos e…  O corpo foi encontrado de madrugada, pelos pivetes da rua. O rosto e a mão direita desfigurados pela explosão na cara: ao puxar os gatilhos ao mesmo tempo, a arma explodira. Quando o céu parecia explodir perto dela, a agora viúva saíra correndo até em casa sem parar nem olhar para trás. Estava tão assustada que não fez nenhuma associação entre o que aconteceu e a morte do marido. Mesmo assim, foi a única a entender o que aconteceu, dias depois, rindo: Uma viúva rica!


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