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BONITO SEQUESTRO, FERNANDINHA!
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OS PRINCIPAIS PERSONAGENS: Fernanda Gabriela, 28 anos, solteira, recém formada em Administração de Empresas, de família classe média, trabalhava numa agência de automóveis, mas o patrão a despediu por um motivo muito relevante, como você vai ler mais embaixo. Paulo Beltrão, 30 anos, solteiro, bacharel em direito por obrigação da família e empresário precoce, deixou de ser um consultor jurídico de uma multinacional para ser dono de uma próspera agência de automóveis na zona sul da cidade. De família tradicional e rica, dizem que ele está envolvido em roubo e desmanche de carros, que ele desmente comentando que é “coisa de invejosos”. OS FATOS: Fernanda, ou Nandinha para os íntimos, moça mimada e filha única, está à frente das ambições dos pais, que sonham em vê-la casada com um rapaz de boa família, do mesmo nível social e rico, não necessariamente nessa ordem. Nandinha decidiu encarar um meio expediente na agência do Paulo Beltrão, recomendada que foi por um amigo da família (dela), enquanto esperava melhor oportunidade. De secretária executiva inteligente, competente e gostosa (não necessariamente nessa ordem), Fernanda conseguiu logo que o dono da agência, Paulo, se engraçasse daquela moça branca, bem torneada e rebolativa (atributo que exagerava quando o Paulo se aproximava…). Bem, Fernanda não era chegada a aventuras amorosas e sim pensava em garantir o ano 2000, pois parece que ela não queria assim tanto ser uma eterna executiva, mesmo ganhando bem. E que tal se outro ganhasse bem por ela e ela usufruísse tudo sem dar duro? Claro, a família tinha dinheiro, mas ela era apenas uma filhinha de papai classe média! Assim, as noitadas e madrugadas nos braços do Paulo pelos motéis de luxo da zona sul, durante o meio da semana, tinham algo de maquiavélico: enredar o nosso amigo Paulo Beltrão! A menina tinha futuro! Falta acrescentar um pequeno e insignificante detalhe: Paulo Beltrão, filho de papai e mamãe ricos, era… negro. Aquele negro tipo angolano, de cabelos lisos e feições brancas, mas… negro. Claro que era um pormenor que não escapava aos pais de Nandinha. Talvez por que a família desta era abastada e não precisava passar por cima do preconceito… Falei preconceito? Não existe preconceito racial no Brasil! Não! Era apenas uma circunstância, vamos dizer assim, particular, uma minudência (corre, pega o dicionário!) politicamente incorreta mas… relevante para quem tem e tinha várias gerações com olhos azuis e pele claro. Claro! Por conseguinte, para certas pessoas, ter um polpuda conta no City Bank, American Express e Diners Club não significava desbravar e romper barreiras… sociais! Mesmo que a Fernanda fosse de família de classe média, média, o Paulo Beltrão não tomava conhecimento dessas divisões de classe tão a gosto do institutos de pesquisa: era rico mesmo, de parte de pai, avô, bisavô e assim por diante. Parecia apenas um sujeito que gozava a vida, o hoje, aqui e agora. Quer dizer, o danado trabalhava, trabalhava (trabalhava, não, pois vivia quase todo o dia na mais pura mordomia, já que a agência tinha um gerente que levava o barco, digo, o carro à frente). Enquanto isso, Nandinha não imaginava ficar quarentona e no “liseu”, o que não combinava muito com o que ela tinha em mente como futuro realizado! Sim, falei “liseu”, por que para os seus padrões, não ter dinheiro é não ter grana para uma viagem no mínimo pelo Pantanal mato-grossense (os cantos exóticos do país), de dois em dois anos ir para a Europa, ter um carro importado e não essa droga de carro nacional, além do que, detestava feijão e arroz com carne assada. Foi aí que conheceu Caetano Gil, homônimo dos cantores famosos, uma homenagem infeliz dos seus pais (fãs dos baianos), coisa que ele, Caetano Gil, detestava, pois teve que aguentar durante toda a sua infância e adolescência, as piadas dos parentes, amigos e aderentes. Caetano era empregado da Agência e fantasiava visões carnais da Fernanda, só que era um branco bonito, atlético, alto com olhos azuis sinuosos e… pobre! Mais uma minudência (já descobriu o que é?): sim, Caetano Gil, era o gerente… Fernanda olhava o tal gerente com outros olhos, talvez não os mesmos que encaravam o Paulo Beltrão. Bem, nossa amiga Fernanda começou a achar graça no Caetano, que mesmo que não conhecesse uma nota musical, cantava sempre a Fernanda. Tanto cantou, que o casalzinho ia fazer umas récitas nos modestos hotéis da Zona Norte. Era o noivo pagar tudo pelas noites e motéis da zona sul e a noivinha pagar tudo pelas noites e motéis da zona norte. Quer dizer, era um triângulo amoroso, onde o amoroso Caetano não era assim tão bem provido(de dinheiro, hein!) como o Paulo Beltrão. Nesse triângulo, o vértice era a Fernanda, cujos vértices de bases eram muito bem usadas pela esperta Nandinha. Pobres homens… Enquanto tudo isso acontecia, é bom dizer que a família de Fernanda dava em cima por causa do tal detalhe monocromático. Afinal, a família preferia tudo a cores, mesmo que fosse um branquelo desbotado. O que não era o caso do gerente: Faltava o tal detalhe da conta polpuda no City Bank, etc. etc., aquelas coisas… Mas, sabe como é que é, amantes arranjam tempo e lugar pra tudo. Parece que o gerente começou a sonhar mais alto, quem sabe, casar com aquela mocinha tão bonitinha (mas, veja lá, hem? Ordinária!). A coisa ia nesse pé, até que um dia Paulo Beltrão chamou Fernanda Gabriela e foi rápido: “quero me casar com você e noiva minha não trabalha!”. Surpresa total para Fernanda, que já começava a desconfiar das verdadeiras intenções do agora ex-patrão. Quer dizer, o triângulo não era assim tão equilátero mas ficou mais complicado, já que a Nandinha agora ficaria um pouco longe do dia a dia do noivo e do… gerente. Mais complicado ainda: a família de Fernanda assim que soube do noivado não gostou: desaprovou geral! Para encurtar a história, Fernanda entendeu que não ia perder de maneira nenhuma essa boquinha: de um comentário com o agora candidato a amante e urso Caetano Gil, saiu a idéia: Forjar um sequestro, que sensibilizasse e integrasse ambas famílias. Assim, numa sexta à noite, “ela foi sequestrada da porta de casa” e o seqüestrador (de uma praia a 200 km da capital), fez o pedido de “resgate”: 50 mil dólares (Aliás, Fernanda achou que ela estava muito barata, mas Caetano disse que era só pra constar, que ela não ficasse impressionada). Não vamos esquecer que o sequestro era de mentirinha e que logo Fernandinha “apareceria, fugida dos seqüestradores”, sem a cobrança do resgate! A idéia surtiu o efeito desejado, as duas famílias logo esqueceram as diferenças “furta cor” e ficaram aguardando ansiosamente um segundo telefonema que estabelecesse as regras para o pagamento do resgate, como aqueles momentos de tensões, por que, sequestro que se preza tem aquele suspensezinho e tal, dissimulações, troca de carro, telefonemas rápidos, bilhetinhos, bla bla bla; só que o de Fernanda… nada! E Aí? Entrou pela perna de pinto, saiu pela perna de pato, o seu rei mandou dizer que você contasse outra história, porque essa história aqui não convenceu mesmo, o doutor delegado de polícia do 5º Distrito, que apurava uma denúncia de furto registrada pelo sr. Paulo Beltrão que deu pelo sumiço de 50 mil dólares que estavam no cofre da sua próspera agência de automóveis. A suspeita recaía sobre a sua secretária, Fernanda de tal e do seu Gerente, Caetano, ambos desaparecidos. Como, leitor? A riqueza de Fernanda, o noivado com Paulo, etc e tal? E você vai acreditar numa pessoa que além de ladra é mentirosa? Eu só sei, para acabar essa história meio doida, que, fato ou versão, ninguém soube por que ambas as famílias abafaram o caso, nem por que o Paulo retirou a queixa e nem se os dólares apareceram ou se existiram mesmo. Nisso tudo, só uma verdade, que o delegado não sabia, mas que a imprensa logo desvendou: Desesperado por que o seu “amante” desapareceu com uma outra mulher e ainda levando 50 mil dólares, Paulete Goddar, assídua frequentadora das boates gays finíssimas da zona sul, nome de guerra de Paulo Beltrão, já está de caso novo a bordo do Funchal a caminho de Dakar. Se despedira de todos, afirmando: “Amanhã será outro dia!”. Entendeu tudo, agora!? |
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