:::::::::::::: MEMORIAL PERNAMBUCO :::::::::::::: A História, a Cultura e a Arte de Pernambuco para o Mundo! ::::::::::::::

Música

MOACIR SANTOS

O mito Moacir Santos* JOSÉ TELES

O maestro Moacir Santos, pernambucano de Flores do Pajeú e cidadão do mundo, 79 anos, há 38 morando em Los Angeles, é comparado a Pixinguinha pela inovação dos arranjos que criou e timbres que extraiu das orquestras e conjuntos que liderou. Desconhecido das novas gerações, Moacir Santos teve, este mês, sua obra lançada em três songbooks, além de um CD, Choros & alegria, produzido pelos músicos cariocas Mario Adnet e Zé Nogueira. O maestro é autor de um dos mais importantes discos da música brasileira, Coisas (1965), que influenciou várias gerações. Um songbook inteiro foi dedicado a este disco de pouco mais de 30 minutos de duração e importância atemporal. Os outros dois songbooks trazem os arranjos de Ouro negro, e do citado Choro & alegria.

*Publicado no Jc Online: em 25.12.2005

Moacir Santos Moacir Santos é considerado pelos críticos e pesquisadores musicais como um dos principais arranjadores e compositores brasileiros, aquele que renovou a linguagem da harmonia no país. Moacir Santos começou cedo sua história musical, se unindo à banda da sua Flores do Pajeú natal, em pleno sertão pernambucano, aos 14 anos, tocando saxofone, clarinete e trompete, entre outros instrumentos. Dois anos depois ele saiu pelo nordeste afora até 1943, quando arrumou um emprego na Rádio Clube de Recife. Em 1945 foi para a Paraíba, onde tocou na banda da Polícia Militar e na jazz band da Rádio Tabajara como clarinetista e tenorista. Em 1948 ele mudou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na gafieira “Clube Brasil Danças” durante 18 anos como saxofonista, arranjador e maestro. Outro longo emprego que teve foi na Rádio Nacional, começando como tenorista da Orquestra do Maestro Chiquinho. Como fazia arranjos sem conhecer as regras, Santos se iniciou em teoria musical com Guerra Peixe e depois foi estudar com o grande musicólogo e compositor alemão Hans Joachim Koellreutter, de quem Santos depois se tornou assistente. Durante essa década ele começou a dar aulas, mas foi nos sessenta que ficou famoso, sendo professor de grandes talentos, como Paulo Moura, Oscar Castro-Neves, Baden Powell, Maurício Einhorn, Sérgio Mendes, João Donato, Roberto Menescal, Dori Caymmi e Airto Moreira, entre outros. Em 1951, ele foi convidado por Paulo Tapajós, diretor da Rádio Nacional para ser um maestro e arranjador do elenco, onde permaneceu até 1967. Em 1954, Santos foi para São Paulo onde dirigiu a orquestra da TV Record. Dois anos depois, ele voltou ao Rio de Janeiro, retomando seu trabalho na Rádio Nacional e se tornou regente na Copacabana Discos. Com o prestígio alcançado no Brasil, Santos gravou em 1965 pela Forma, o seu primeiro álbum solo, “Coisas”. Santos compôs trilhas sonoras para muitos filmes como “Love in the Pacific”, “Seara Vermelha”(Rui Aversa), Ganga Zumba (Cacá Diegues), O Santo Médico (Sacha Gordine), e Os Fuzis (Ruy Guerra), entre outros. Em 1967, ele deixou a Rádio Nacional e se mudou para os EUA, indo morar em Pasadena, onde ficou dando aulas de música até ser descoberto por Horace Silver. Em 1985, ele abriu junto com Radamés Gnattali, no Rio de Janeiro, o I Free Jazz Festival. Em 1996, ele condecorado pelo Presidente Fernando Henrique com a comenda da Ordem do Rio Branco. No mesmo ano, Santos foi homenageado no Brazilian Summer Festival em Los Angeles.

Seus arranjos originais para várias de suas composições foram transcritas por Mário Adnet e Zé Nogueira no álbum duplo “Ouro Negro”(2001), que teve as participações de Milton Nascimento, João Donato, Gilberto Gil, e do próprio Moacir Santos, entre outros.

Discografia 1965 Coisas Forma/Universal Music 1972 Maestro Blue Note 1974 Saudade Blue Note 2001 Ouro Negro Independente

Coisas

“Coisas” foi o primeiro álbum lançado por Moacir Santos em 1965 pela Forma com produção de Roberto Quartin. O disco introduziu ao grande público o trabalho um dos maiores mestres da renovação da música popular brasileira.

Publicado em www.clubedejazz.com.br

Moacir Santos volta ao Brasil para gravar CD

Rio de Janeiro – O maestro e saxofonista Moacir Santos está voltando ao Brasil, depois de passar mais de 30 anos nos Estados Unidos. Ele está aqui desde a semana passada e nunca deixou de passar férias no País. Só que, desta vez, veio para gravar e lançar um álbum com dois CDs, reunindo 28 músicas suas, tocadas por uma constelação de instrumentistas brasileiros e cantadas por Ed Motta, Joyce, João Donato, João Bosco e Djavan. É o resgate de um artista cujo nome geralmente não é associado às suas composições. E também preenche uma lacuna porque Moacir Santos gravou apenas seis discos, em mais de 60 anos de carreira nenhum deles reeditado.

O próprio Moacir vai tocar pouco nos discos porque, aos 75 anos, perdeu parte de sua habilidade motora por causa de um acidente vasocerebral sofrido há cinco anos. “Ele preferiu deixar de se apresentar em público enquanto ainda era muito solicitado. É bom para o artista deixar saudade”, explica sua mulher, Cleonice, companheira de mais de 50 anos, que veio com ele da Paraíba, no fim dos anos 40, quando um desentendimento com a direção da Rádio Tabajara, de João Pessoa, o fez vir tentar a sorte no Rio. “Ele enxerga mais adiante e, se um dedo não obedece a uma ordem sua, compensa com a outra mão.” Moacir, reverenciado por Baden Powell e Vinícius de Morais no Samba da Bênção, é um caso de talento precoce e perene. Ele não se lembra de quando começou o interesse musical. “Quando me entendi como gente já fazia música, e ganhei meu primeiro cachê entre os 9 e 10 anos de idade. Foram 30 mil réis, uma fortuna, para a época”, conta. “Ao chegar ao Rio, em 1949, toquei no Dancing Brasil e, um mês depois, era contratado da Rádio Nacional, o que significava, na época, o ápice da carreira de um músico.” Ele acompanha as gravações para cuidar que tudo soe exatamente como compôs e, nos intervalos, conta como se radicou nos Estados Unidos, tendo gravado ou tocando com os grandes músicos de jazz (só Nanã, seu maior hit, tem mais de 150 versões). Seu discurso, como a música, não é direto, segue em espiral, cercando o assunto principal de preciosas metáforas. “Fiz a trilha sonora para um filme americano, executada por 65 músicos, uma autêntica sinfônica. O Itamaraty entendeu que eu deveria ir, me deu a passagem e, quando cheguei, vi que tinha espaço para mim, pelo grau de desenvolvimento que minha música tinha alcançado”, lembra. “Chamei minha mulher e fiquei, porque encontrei em Passadena um paraíso, um inspirador, silencioso.” Agora, Moacir e Cleonice querem voltar ao Brasil. “O tempo que eu devia ficar lá terminou e quero me equilibrar entre as duas Américas”, diz o músico, que sabe de seu valor, mas não tem ilusões quanto a seu público brasileiro. “Tenho impressão de que sou muito conhecido aqui, mas não sou um artista popular como Roberto Carlos. As pessoas que me ouvem, lá como cá, são escassas. São especiais, como minha música.” O álbum duplo pode aumentar esse público, pois será lançado em grande estilo, com show no Rio e distribuição pela gravadora Universal. O projeto é dos músicos Mário Adnet e Zé Nogueira, que obtiveram R$ 430 mil da Petrobras, usando a Lei Rouanet. A produtora Marisa Adnet decidiu que Moacir não deve ser fotografado com o saxofone barítono, porque já não toca mais. Diante da impossibilidade de tocar, Moacir passou seu instrumento a Vittor Santos. Marisa define também como ele superou a falta de seu saxofone, instrumento para o qual criou uma linguagem. “Moacir é um artista tão completo que superou a falta do sax tocando outros instrumentos, escrevendo arranjos, compondo e até cantando. Nesse disco, ele divide a faixa Bodas de Prata Dourada com a cantora Muisa Adnet e sola April Child”, adianta Marisa. O próprio Santos dá outra versão. “Como a idade não me permite mais essas façanhas, eu vejo, em outros músicos, a continuação do que comecei”, teoriza. “Tive uma enorme alegria quando encontrei o Ivan Lins e disse que havia adorado seu disco. Ele me abraçou e disse que aprendeu tudo comigo e com o Tom Jobim. Então, vejo-o tocando a música que não posso mais fazer; é como se fosse minha.” O álbum duplo faz parte dessa herança. “Representa, sobretudo, a colheita dos frutos que plantei desde quando cheguei ao Rio, há 52 anos”, diz Moacir. “E tem a vantagem de chegar a tempo”, completa Cleonice. “Eu sempre digo que, se querem homenageá-lo, aproveitem enquanto o Moacir está vivo, porque depois não interessa virar nome de rua, show em memória, até porque ele já recebeu muitas honras em vida. Até o governo brasileiro reconheceu sua importância e fez dele comendador.” Beatriz Coelho Silva Publicado em www.estadao.com.br/divirtase/noticias/2001/mar/12/190.htm

RETORNA