A dona do carnaval: Ainda em vida Dona Santa já era um mito. Quando morreu em 1962, aos 85 anos, virou uma deusa, uma lenda. A maior rainha dos maracatus pernambucanos teve sua trajetória marcada pelo apreço à cultura afro-brasileira e ao maracatu. Sobretudo, Maria Júlia do Nascimento, seu nome de batismo, teve sua vida marcada pela paixão ao carnaval. Antes de reinar absoluta nos maracatus, Dona Santa batalhou como plebéia e marcou o seu nome no carnaval da época. Participou de congadas, das troças Missangueira e Verdureiras e fundou a troça Rei de Ciganos, que depois se tornaria o Maracatu Porto Rico do Oriente, que existe até hoje. Apaixonada pela ritualística do maracatu de baque virado e pelo som do tarol e da alfaia, se tornou a rainha do Maracatu Leão Coroado. Lá, se apaixonou e casou com João Vitorino. Quando ele virou rei do Maracatu Elefante, Dona Santa não teve dúvidas: saiu do Leão Coroado e foi para o Elefante. Ao contrário do que muitos acham, Dona Santa só viria a ser coroada rainha do Maracatu Elefante em 1947, aos 59 anos. O pesquisador e fotógrafo francês Pierre Verger fez uma bela série de fotos sobre os maracatus pernambucanos nas quais a neta e filha de africanos, Dona Santa, é personagem recorrente. Filha de Oxum e ialorixá, Dona Santa driblou a repressão religiosa da ditadura Vargas, ao utilizar os ensaios do maracatu para realizar cerimônias do candomblé. O Maracatu Elefante, fundado em 1800 e considerado o mais antigo do país, conheceu o reinado soberano de Dona Santa por 16 anos. Antes de morrer, Dona Santa, a homenageada do Carnaval Multicultural Recife 2005, deixou registrado que todo o acervo do Nação Elefante deveria ser doado ao Museu do Homem do Nordeste, o que aconteceu em 1964. Anos depois, já em meados da década de 80, outra figura feminina de destaque dos carnavais recifenses, Dona Madalena, coloca novamente o Maracatu Nação Elefante nas ruas da cidade. O Mestre do Carnaval Felipe Mendes – Equipe Agenda Cultural do Recife Raiz. Este talvez seja o melhor termo para definir um artista como Manuel Salustiano Soares, o Mestre Salu. Nascido em 1945 no município de Aliança, Zona da mata de Pernambuco, veio ganhar a vida na capital e se instalou em Olinda. Desde então vem se envolvendo e promovendo diversas atividades culturais e deixando uma marca forte na produção da cultura popular no Estado. O contato com o folclore se deu muito cedo para mestre Salustiano. Através de seu pai, o rabequeiro João Salustiano, conheceu o cavalo-marinho. Aos sete anos já tocava e participava da festa. Freqüentava apresentações de ciranda, mamulengo e maracatu. Quando saiu de sua cidade natal, foi o responsável por trazer a tradição do cavalo-marinho e seus personagens ao Recife. Espécie de faz-tudo da cultura popular, fundou o Maracatu Piaba de Ouro, o Cavalo Marinho Boi Matuto, o (hoje extinto) Caboclinho Caetés de Olinda e a banda Sonho da Rabeca. É chamado de “Embaixador da Cultura Popular de Pernambuco” e coleciona admiradores do porte de Ariano Suassuna, Antônio Nóbrega, Siba e Chico Science. As marcas da arte deste mestre da cultura pernambucana são sentidas em diversos momentos da história recente da arte pernambucana. Seja no espaço Ilumiara Zumbi – localizado na frente de sua casa – em que diversas manifestações culturais têm espaço, seja no surgimento de diversos maracatus, na Casa da Rabeca – onde fabrica esse instrumento tão associado a ele –, em fazer o cavalo-marinho ser conhecido e reconhecido, no forró de rabeca ou no movimento Mangue. E essa história não pára. Mestre Salustiano já se apresentou e representou a arte pernambucana e brasileira em diversos países, gravou com seu Sonho da Rabeca, e vários de seus quinze filhos também estão envolvidos firmemente com a arte popular. Que o Carnaval Multicultural 2005, ao homenagear este ícone, dê mais força à expressão dessa raiz que – como a de uma árvore de mangue – se projeta pra fora da terra e se torna visível e bela. Com nutrientes tão ricos, é firme e forte o tronco dessa árvore que já rendeu tão belos frutos.
fonte: agenda cultural do recife
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