:::::::::::::: MEMORIAL PERNAMBUCO :::::::::::::: A História, a Cultura e a Arte de Pernambuco para o Mundo! ::::::::::::::

Pê era uma negrinha, de 17 anos, redondinha, bunda arrebitada e durinha, pernas grossas e torneadas, lábios sensuais e voluptuosos, narizinho redondo. Enfim, era uma negra danada da gostosa. que circulava na fazenda do senhor João Fernandes Vieira, o maior latifundiário de Pernambuco lá pelos idos de 1630. Suas terras iam de Pernambuco a Natal, embora alguns suspeitassem que suas posses iam mais além.

Um dos capatazes, também negro mulato mas alforriado, João das Botas, não disfarçava os olhares quando Pê passava prá lá e prá cá, imagine só, rebolando e fazendo nascer desejos inconfessáveis.

Mas Pê era uma escrava, e, naquela época, minha senhora (ou meu senhor, cá entre nós, prefiro dizer minha senhora, sou meio machista…), o senhor dos engenhos era o rei, o príncipe, o magistrado, o delegado, o padre, podia tudo. Ainda mais sendo o homem mais rico da região. E ainda tinha a tal das primícias (vá correndo ao dicionário, pode ser o Aurélio ou Houaiss). Se bem que na Europa as primícias valia mais para os brancos azedos que moravam na terra do patrão cujas filhas, virgens, iam casar…

Porém estávamos no Brasil, e, bem distantes da sede da metrópole, Lisboa, ninguém dava lá muita atenção às leis, portarias e despachos do senhor Del Rey. Aqui valia tudo (é mais ou menos como hoje, o cara morar lá no interior do Amapá e ir reclamar do patrão ao delegado de plantão, amigo, imagine só, de quem…).

E não é que de Pê mudou de função? Só fazia trabalhos leves, dentro da casa grande, especialmente atendendo ao patrão, vestindo roupas bonitas, coloridas, caras. E todo mundo fazia de conta que não reparava nas alterações que aconteciam no… corpo de Pê, alterações essas que se resolveram lá pelos primórdios do outono, na forma de um garotinho meio branquelo, olhos azuis e bem forte.

Pensa que alguém se incomodava com isso? Ora, se nem a patroa abria o bico para reclamar das travessuras dos seus maridos, filhos, parentes e amantes (como, minha senhora, amantes?! Ora, e o que acha que acontecia quando os homens passavam meses fora de casa lutando nas guerras?), porque os outros iam reclamar? Leia:se: outros  = escravos, não escravos, empregados, vizinhos etc.

Ou a senhora tá pensando o que acontecia nas senzalas de dia ou de noite? Já viu como essas branquelas européias são inssossas, sem bundas, retas que nem tábuas, e, pior, a maioria (naquela época) gordas bulofôfas? E, ainda mais, caretas na cama, cheia de frescuras e repressões.

Sabe como o papai e mamãe transavam, fazendo o tradicional papai-e-mamãe? A mulher com aquele robe cheio de tecidos, arriava a calçola (que ia da cintura até os tornozelos). Imagine o trabalhão. O homem vestia um camisolão que ia do pescoço até o pés, sem nada por baixo. Para complicar ainda, era tudo feito no escuro, porque um não podia (ou não devia) ver o outro pelados. E tinha casais finos, que ainda usavam o famoso lençol de linho, que tinha um buraco estratégico, largura idem, cheio de rendas em volta. A mulher se deitava, colocava o tal lençol coincidindo local estratégico com local estratégico, levantando antecipadamente o robe e tirando o calçolão, enquanto o homem levantava (minha senhora, deixa de pensar em safadeza), levantava o camisolão e juntava os tais estratégicos! E sem falar que era rapidim que nem coelhim. Sim, minha senhora, gozar que era bom, a mulher nem sabia o que era isso, pois o orgasmo só foi descoberto em meados do século 20! (com exceções das mulheres que sabiam gozar, mas isso é outra história).

Pois é. El Señor del Rey do pedaço dava a sua gozadinha sem graça, mas não achava lá muita graça nisso, a não ser quando olhava para aquelas negrinhas feito Pê, pensando cá com sua parte de baixo. 

E sem falar que o grandão da época tinha outras mulheres disponíveis, era só escolher: além das escravas, tinha as índias, as filhas dos serviçais etc. Os caras era muito safados e insaciáveis. Puxa, direis, transar com a filha do empregado? Mas minha senhora, eu não já te disse que patrão naquela época era Rei, Delegado, Padre e Juiz?

Como é que um cidadão rico, vaidoso, orgulhoso do seu poder, ia ficar assim ao léo vendo aquelas índias nuas e escravas roliças? Gilberto Freyre ficou famoso fazendo um estudo sobre isso, lembra (Casa Grande e Senzala).

E foi assim que transando com índias, escravas e filhas dos empregados, e, depois com as filhinhas destes cruzamentos (naquela época ninguém era preso praticando pedofilia), mamelucas, caboclas, cafusas, mulatas, mestiças, e, ainda, depois, misturando tudo isso novamente, apareceram os mazombinhos, que somos nós.

Entendeu agora por que somos todos filhos da Pê?