Prefeito: Augusto Lucena.
O bairro de São José é devastado, seu patrimônio edificado para sempre comprometido e sua vida social e urbana fragmentada. Mais de 400 casas, 11 ruas (Rua Augusta, Rua Santa Teresa, Rua do Alecrim, Rua de Hortas, Rua Dias Cardoso, entre outras), o Pátio do Carmo e a Igreja do Senhor Bom Jesus dos Martírios, são destruídos para a construção da Avenida Dantas Barreto, um corredor viário inútil que logo é apropriado pelo comércio ambulante, pelos terminais de ônibus e estacionamentos.
A sociedade se divide, a UFPE, o escritor Ariano Suassuna e vários arquitetos são contra a demolição da Igreja dos Martírios, monumento histórico e artístico nacional. Gilberto Freyre , que inicialmente se posiciona contra “o furor da destruição maciça do Bairro de São José”, em seguida (contrariando, mesmo sem ser expert no assunto, o parecer dos próprios técnicos do Iphan que lutavam pela preservação do monumento), declara que a igreja “não é monumento de alto valor”.
Muitos intelectuais do Recife comungam de sua opinião. Mas numa ditadura militar quem decide mesmo é o General Médici, que acolhendo parecer do ministro da Educação, Jarbas Passarinho, assina o Decreto Nº 70 389 de 11 de abril, 1972, e autoriza o cancelamento da inscrição de tombamento da Igreja dos Martírios no Livro de Tombo do Iphan. A demolição do monumento “destombado” tem início em 23 de janeiro de 1973 e em setembro do mesmo ano a Avenida Dantas Barreto é inaugurada.
O bairro de São José é mutilado para sempre e o vazio da avenida se torna uma cicatriz urbana encravada na morfologia da cidade, símbolo da incoerência e despotismo dos governantes, que no autoritarismo dos anos 70, comandaram o destino da cidade do Recife.