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História

PROSOPOPÉIA

Bento Teixeira é o autor da primeira obra poética produzida no Brasil. Sua Prosopopéia, escrita em Pernambuco entre 1585-94, foi publicada em Lisboa em 1601 com dedicatória a “Jorge Dalbuquerque Coelho, Capitáo e Governador de Pernambuco, nova Lusitânia”, numa produção da oficina de Antônio Alvares. Seu único exemplar conhecido encontra-se na coleção de obras raras da biblioteca da faculdade de Direito da universidade Federal de Pernambuco, no Recife. Foi “o primeiro escrito no Brasil a merecer as honras do prelo”, mesmo assim os versos de Teixeira só encontraram caminho na seqüência do relato do naufrágio que sofreu o homenageado, escrito como diário de bordo pelo próprio comandante da embarcação. Em meio desta obra alpestre e dura, Uma boa rompeu o ma inchado Que na língua dos bárbaros escura, Pernambuco de todas é chamada: De Pará, no que é mar, Puca, rotura, Feita com a fúria desse Mar Salgado, Que sem derivar, cometer míngua, Cova do mar se chama em nossa língua O poeta não experimentou a glória em vida; ao contrário: sofreu as privações e humilhações do cárcere e amargurou definitivamente seu coração com a desilusão da traição amorosa. Pobre e tuberculoso, morreu, em 1600, sem ver sua obra impressa. Amante de Pernambuco, como deixa escrito nos versos em que elucida a origem do nome do estado, sequer nasceu no Brasil. Aqui, entretanto, viveu suas curtas espe- ranças e fugazes alegrias. Raras emoções felizes a inspirar-lhe a obra que deixou. Passou por pernambucano desde que Diogo Barbosa Machado, em sua Biblioteca Lusitana, publicada em Lisboa, em 1741, declarou ter Bento Teixeira nascido em Pernambuco, num erro repetido ao longo de dois séculos. Somente em 1960, José Antônio Gonsalves de Mello, pesquisando no processo originário de Pernambuco de número 5206, do Santo Ofício (Inquisição) de Lisboa, verifica ser o réu um Bento Teixeira. Em seus diversos depoimentos, afirma o acusado ser natural do Porto (Portugal), de onde saiu com cinco para seis anos de idade, acompanhando os pais para o Brasil. Sua família fixou-se, inicialmente, no Espírito Santo, por volta de 1567, onde matriculou-se na escola dos padres jesuítas com os quais veio a continuar seus estudos na Bahia. Vida em Pernambuco – Em 1579, já tendo terminado seus estudos com os jesuítas, passou a morar na capitania dos Ilhéus, onde casou-se com Filipa Raposa. Anos mais tarde, em 1584, fixou-se na vila de Olinda, onde abriu uma escola para meninos. Por dificuldades financeiras mudou-se para a vila de Igarassu, em 1588, onde, além de mestre-escola, exerceu as funções de advogado, cobrador de dízimos e contador de pau-brasil. Pelos freqüentes adultérios de sua mulher, Filipa, viu-se obrigado a mudar-se para o Cabo onde, em dezembro de 1594, não mais suportando o comportamento da mulher, a assassina. Fugindo da justiça, vem refugiar-se no mosteiro de São Bento, em Olinda. Por essa época, chega a Pernambuco o visitador do Santo Ofício Heitor Furtado de Mendoça. Sendo cristão-novo, ou seja pessoa de origem judaica recentemente batizada pela Igreja Católica, Teixeira é denunciado por práticas judaiz antes.Preso em 19 de agosto de 1595, é embarcado, juntamente com outros réus, para os cárceres do Santo Ofício em Lisboa, onde, por mais de quatro anos passa por sofrimentos e privações. Libertado em 30 de outubro de 1599, aos 40 anos de idade, padecia de tuberculose. Estava pobre e só. Por motivos ignorados, volta à cadeia de Lisboa, conforme atesta o médico João Alvares Pinheiro, a 9 de abril do ano seguinte. De seu processo nada mais consta, a não ser esta anotação na capa: “É falecido Bento Teixeira e faleceu andando com a penitência em o fim de julho de 600” Ó sorte, tão cruel, como mutável, Por que usurpas aos bons o seu direito? Escolhe sempre o mais abominável Reprovas e abominas o perfeito O menos dignos, fazes agradável, O agradável mais, menos aceito… O frágil, inconstante, quebradiça, Roubadora dos bens, e da justiça.

(Prosopopéia)