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História do Recife |
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por Leonardo Dantas |
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Uma senhora indo a visitas / Henry Koster / Viagens ao Nordeste
Koster: O mais fiel retratista da paisagem
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Ao entregarmos ao público ledor mais uma edição da obra clássica de Henry Koster, que recebeu o título em português de Viagens ao Nordeste do Brasil, julgamos por bem chamar a atenção da crônica desses viajantes no registro da evolução da paisagem brasileira nesses últimos séculos. De todos os que se aventuraram em percorrer os sertões brasileiros, mesmo entre aqueles que apenas registraram aspectos de nosso litoral, foi o inglês Henry Koster o que melhor soube expressar os sentimentos de nossa gente. Dominando perfeitamente a língua portuguesa, ele logo integrou-se na vida societária de então chegando a ser senhor de engenho em Itamaracá, onde era conhecido como Henrique da Costa, daí a precisão e riqueza de detalhes contidas em suas narrativas acerca da paisagem, usos e costumes do início do século XIX no Nordeste brasileiro. Sua obra, surgida em Londres no ano de 1816, logo alcançou sucesso através de sucessivas reedições e publicações em outros países, passando a ser fonte de consulta e citação obrigatória por todos que escreveram sobre o Brasil a partir de então. No século XX, a sua obra ganhou uma especial tradução a cargo do mestre Luís da Câmara Cascudo, que a acresceu de notas e comentários da maior valia para o leitor dos nossos dias. Antes porém de nos determos na magnitude da obra de Henry Koster, vale a pena um passeio em torno da obra de alguns desses viajantes que percorreram a terra brasílica nesses últimos 500 anos de nossa história. A presença de viajantes e aventureiros em terras da “Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil”, para usar a expressão de Pero de Magalhães de Gândavo, na sua História publicada em Lisboa em 1576, éuma constante nesses quinhentos anos de nosso País.[1] Desde Pero Vaz de Caminha, o primeiro a narrar a nossa primitiva paisagem, em Carta enviada ao Rei de Portugal, D. Manoel I, as crônicas dos chamados viajantes tornaram-se uma constantena bibliografia brasileira. Os relatos desses viajantes já aparecem logo nos primeiros anos que sucederam ao achamento do Brasil, a exemplo das obras escritas por Hans Staden (1557) e Jean de Léry (1574), seguindo-se das descrições de Roelof Baro (1651) e de Ambrosius Richshoffer, com Diário de um soldado da Companhia das Índias Ocidentais (1677), bem como do testemunho de Urbain Souchou de Rennefort, inMemoires pour servir a L’Histoire desIndes Orientales etc,livro publicado em Paris em 1688, das cartas de Mrs. Kindersley (1777) e das aventuras de James George Semple Lisle (1799), só para citar alguns que antecederam ao século XIX, no qual esse tipo de literatura vem tomar formas definidas. Dessa leva de viajantes e aventureiros que escreveram sobre os primeiros anos de nossa colonização, destaca-se o depoimento de Hans Staden publicado na Alemanha em 1557.[2]Esse singular aventureiro engajou-se como artilheiro de um navio português que comerciava pau-brasil, fazendo a sua primeira viagem ao Brasil em 1547. Ao chegar a Pernambuco, logo participadas lutas contra os índios que sitiavam a vila de Igarassu, transferindo-se depois para a Paraíba de onde só retornou a Lisboa no ano seguinte. Volta ao Brasil em 1550, desta vez sob a bandeira de Espanha na expedição de D. Mencia Calderon de Sanabria, que devia fundar duas povoações, uma na ilha de Santa Catarina e outra na foz do Rio da Prata. Depois de várias peripécias, vamos encontrá-lo na vila de São Vicente, onde exerce as funções de arcabuzeiro na ilha de Santo Amaro, em frente a Bertioga. Prisioneiro dos índios tupinambás, em janeiro de 1554, lá permanece durante nove meses, quando consegue fugir e, em 20 de fevereiro de 1555 chega à França iniciando sua viagem de retorno à pátria. A narrativa de Hans Staden foi de um sucesso incomum. Da primeira impressão em 1557 até a edição londrina de 1874 foram registradas 17 tiragens, reproduzindo as excelentes xilogravuras da primeira, além das edições em língua portuguesa mais recentes. Segundo José Honório Rodrigues, [3]a melhor edição brasileira é a da Sociedade Hans Staden, conforme a transcrição em alemão moderno de Karl Fouquet (São Paulo, 1941, n.º 3 das Publicações da Sociedade Hans Staden), numa tradução de Guiomar de Carvalho Franco, com introdução e notas de Francisco de Assis Carvalho Franco (São Paulo, 1942). 1. Koster e outros viajantes O século XIX veio a ser chamado de “o século das luzes”, tal o número de mudanças ocorridas no âmbito das relações políticas e sociais, bem como dos avanços tecnológicos e de toda uma transformação de costumes que surgiu com a revolução industrial. As guerras napoleônicas, mudando a face da Europa e a conseqüente invasão de Portugal em 1807, obrigaram a família real portuguesa a se refugiar no Brasil. A decisão do príncipe regente Dom João (futuro Dom João VI) de transferir a capital do reino português para o Rio de Janeiro motivou a transmigração de cerca de 8 a 15.000 pessoas, entre adultos e crianças, responsáveis por mais da metade do capital circulante no Portugal continental. A cidade do Rio de Janeiro, por sua vez, foi tomada de um surto de progresso nunca visto, particularmente quando da elevação do Brasil à condição de Reino Unido em 1815. Logo ao aportar na Bahia, o príncipe regente determinou, pela Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, a “abertura dos portos às nações amigas”, o que veio proporcionar um grande impulso à economia brasileira, até então sujeita aos portos portugueses quando da importação e exportação de produtos. O Brasil transformou-se assim num protetorado britânico e, sob essa condição, foram assinados, em 19 de fevereiro de 1810, “Tratados de Comércio e Navegação e Aliança e Amizade com a Grã-Bretanha”. A abertura dos portos e os conseqüentes tratados incentivaram a presença de estrangeiros na vida brasileira dando causa ao aparecimento de relatos de viajantes acerca dos habitantes, vida social, flora, fauna e aspectos outros que precederam e sucederam a independência da antiga colônia. Com a abertura dos portos e o conseqüente incremento da navegação, a presença desses viajantes tornou-se mais amiúde. Suas narrativas, reunidas em livros impressos em várias línguas, com sucessivas edições, passaram a ser disputadas pelo público ledor ávido por descrições de povos e costumes exóticos. Rubens Borba de Moraes, in Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros, [4]enumera 266 viajantes, com as respectivas fichas de suas obras, que escreveramsobre a terra e gente do Brasil, situando-os em sua maioria no século XIX. Tais obras vieram a se transformar em verdadeiros acontecimentos, como foi o caso de John Mawe, mineralogista inglês, o primeiro com permissão do Príncipe Regente para viajar pelo interior das Minas Gerais alcançou grande sucesso quando da publicação do seu livro Travels in the interior of Brazil etc (London: Longman, 1812. 366 p. il. com estampas e mapas coloridos), que em oito anos conquistou nove edições, em cinco diferentes línguas, tendo sido publicado na Grã-Bretanha, Estados Unidos, Suécia, Alemanha, Rússia, Itália, Portugal e Brasil. A melhor das narrativas sobre a primeira década do século XIX, no Brasil, foi, ao que parece, de um súdito inglês nascido em Lisboa: Henry Koster, autor do livro Travels in Brazil (London: Longman, Hurst, Rees, Orme, and Brown, 1816. 501 p. il.com dois mapas e oito cromolitografias). Logo no ano seguinte, o seu livro teve uma segunda edição em inglês a cargo do mesmo editor (London: Longman, 1817. 2 v. 406 e 380 p.), e uma terceira publicada nos Estados Unidos (Philadelphia: M.Carey & Son, 1817. 2 v. 340 e 323 p.), seguindo-se de uma em alemão (Reisen in Brasilien. Weimar, 1817. 624 p.),e de duas outras em francês (Paris: Chez Delaunay Librairie, 1818. 2 v. e Paris: Libr. Universelle, 1846. 2 v.). Em português, porém, sua obra só veio a ser traduzida inicialmente por Antônio C. de A . Pimentel, que a publicou em capítulos na Revista do Instituto Arqueológico Pernambucano, n.º 51 ao 150 (1898-1933). A sua edição autônoma, porém, saiu no ano de 1942, quando por Luís da Câmara Cascudo, a publicou sob o título Viagens ao Nordeste do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1942. 596 p., fazendo parte da Coleção Brasiliana, sob o n.º 221. Em 1978, com nova feição gráfica e com as lâminas coloridas da primeira edição inglesa (1816), uma segunda edição de Viagens ao Nordeste do Brasil vem a ser publicada no Recife, obedecendo à tradução de Luís da Câmara Cascudo, trazendo as notas e prefácio da edição de 1942, devidamente revistos pelo seu autor. [5] Chegando ao Recife em 7 de dezembro de 1809, Henry Koster, então com 25 anos, viera em busca de um clima tropical para cura de sua tuberculose. Sentindo as melhoras, já em outubro de 1810 parte em viagem a cavalo com destino à Paraíba;de lá, resolve estender a sua cavalgada até a capital do Ceará, Fortaleza, onde chegou a 4 de dezembro daquele ano e já a 11 de fevereiro de 1811 inicia sua volta ao Recife, viajando novamente em 25 do mesmo mês, desta vez por mar, ao Maranhão e dali regressa, em 8 de abril, à Inglaterra. Em 27 de dezembro do mesmo ano, já estava de volta ao Recife, iniciando daí uma viagem ao sertão de Pernambuco, em companhia do capitão-mor de Bom Jardim. Ao retornar, em abril de 1812, se transforma em agricultor (senhor-de-engenho), com o arrendamento do engenho Jaguaribe, na ilha de Itamaracá, passando a residir, em 1813, no engenho Amparo. Era um inglês aclimatado aos trópicos, falando fluentemente o português, a ponto de os seus interlocutores duvidarem de sua nacionalidade, o tratando brasileiramente por Henrique da Costa. Retornando à Inglaterra no começo de 1815, resolve escrever o seu livro clássico no qual se revelou, no dizer de Alfredo de Carvalho, “observador simpático da terra em que veio buscar a saúde, crítico tolerante das gentes entre as quais viveu, e narrador consciencioso de tudo quanto presenciou”. O livro de Koster veio a ser dedicado a Robert Southey, “o poeta laureado da Inglaterra”, possuidor da preciosa biblioteca de 14.000 volumes, da qual ele se valera em suas consultas, e autor do clássico History of the Brazil3 v., impresso na mesmaeditora inglesa entre 1810 e 1819. Southey foi um dos primeiros a elogiar a obra de Koster, em artigo publicado na Quarterly Review (XVI n.º 32, janeiro de 1817. p. 344-387). Seguindo-se a este, outros mais exaltaram o seu livro de viagens: o ensaísta John Foster, na Ecletic Review, diz ser a sua “obra de mérito considerável, tanto pelas informações que encerra quanto pelos princípios de justiça e de humanidade que ajuda a confirmar”;Augustan Review, dezembro de 1816; European Magazine, de janeiro de 1817; James Henderson, in The History of the Brazil etc. (Londres: Longman, 1821), que o conheceu nos seus últimos dias, em fins de dezembro de 1819, diz ser ele mundialmente célebre pelo seu trabalho sobre o Nordeste do Brasil. Observa Alfredo de Carvalho que “cinqüenta e três anos depois, o famoso Richard Burton chamava ao autor– the acourate Koster – sua obra The highlands of the Brazil (London: Tinsley Brothers, 1869) e diversas edições, reimpressões e traduções atestam o justo apreço que a sua obra alcançou”.[6] Para Luís da Câmara Cascudo: Nenhum dos grandes viajantes e naturalistas que visitam o Brasil no século XIX deixa de citar Koster com distinção destacada, endossando observações ou dispensando averiguações desde que o inglês, feito agricultor pernambucano, registrara. Southey utiliza-o abundantemente no terceiro volume de sua History of the Brazil(1816). Sem ele Tollenare escreveria menos. Saint Hilaire, cioso das análises feitas pelos outros exploradores, informa, seca mas serenamente, que ‘Koster descreveu bem as regiões que viu…’. Henderson, visitando-o, dera-lhe nomes que explicavam o justo renome. Koster já não era o inglês tuberculoso, pequeno comerciante que procura viver mais um pouco no clima tropical do Brasil, mas a gentleman known to the literary world by the publication of this travels in the northern part of the Brazil.[7] Ao concluir o seu livro, pensava ele não mais regressar ao Brasil. Em 1816, sentindo que a tuberculose recrudescera, retorna a Pernambuco, onde assiste à eclosão da Revolução Republicana de 1817, da qual era simpatizante e tinha ligações afetivas com os seus principais líderes intelectuais. Reprimida a República Pernambucana, pelas tropas legalistas da coroa portuguesa, transfere-se do Recife para Goiana, em busca de melhoras para a sua saúde, retornando em fins de 1819 (Henderson) vindo a falecer em princípios de 1820, sendo sepultado em local não identificável no Cemitério dos Ingleses do Recife. Outros viajantes se seguem a Henry Koster, como Auguste François César de Saint-Hilaire, que vindo para o Brasil em 1816, onde percorreu as províncias do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, a Cisplatina e as Missões do Paraguai, só retornou à França em 1822, onde passa o resto de sua vida catalogando o material botânico recolhido e escrevendo os seus livros de viagens. Além de Plantes usuelles des Brasiliens (Paris: Grimbert, 1824), Histoire des plantes les plus remarquables du Brésil et du Paraguay etc. ( Paris: chez A . Belin, 1824) e Flora Brasiliae Meridionalis (Parisiis: apud A . Belins, 1825), escreveu ele sete outros livros sobre as suas viagens, verdadeiros clássicos para o conhecimento das comunidades do sul do Brasil, no período que antecede a Independência (1822). Como a complementar as narrativas de Koster, o comerciante francês de algodão Louis François de Tollenare escreve, entre 1816 e 1818, um diáriodurante o tempo em que permaneceu em Pernambuco e na Bahia, onde trata de importantes aspectos da vida social e política, com apreciações importantes sobre usos, costumes, festas populares, movimentos políticos, escravidão, economia, pintando com maestria a sociedade de então. O original do documento encontrava-se depositado na Bibliothèque de Sainte-Geneviève (Paris) tendo sido traduzido, nas partes referentes a Pernambuco e Bahia, por Alfredo de Carvalho que as fez publicar, sob o título de Notas Dominicais, nas Revistas do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (Salvador, 1907 v. 14.) e do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano (Recife, 1904. v. 61). Deste último, com a “parte relativa a Pernambuco” e introdução de Oliveira Lima, foi tirada uma separata de 300 exemplares, Recife: Empresa Jornal do Recife, 1905. 261 p.[8]O manuscrito de L. F. de Tollenare só veio a ser publicado em sua íntegra por Leon Bourdon, sob o título Notes dominicales – Prisse pendent un voyages un Portugale et un Brésil en 1816, 1817 et 1818. Paris: Presse Universitaire de France, 1971-73. 3 v. il. Os viajantes tomavam parte na vida brasileira, convivendo nas ruas com as mais diferentes camadas da população, freqüentando salões e até parlamentando com revoltosos separatistas, inimigos do governo português, como foi o caso de Maria Graham (1785-1842). Chegando às costas de Pernambuco em 21 de setembro de 1821, a bordo da fragata Doris, da Real Marinha Inglesa, comandada por seu marido, capitão Thomas Graham, em viagem para o Chile, encontrou a província em plena revolução que tinha por objetivo a deposição do governador português Luiz do Rego Barreto. Isso não impediu que esta senhora inglesa convivesse tanto nos salões do palácio do governador como no acampamento dos revoltosos, localizado acerca de quinze quilômetros, na povoação do Beberibe, transformando-se em testemunha ocular do movimento que culminou com a separação daquela província da suserania portuguesa pela capitulação de 5 de outubro de 1821. No seu retorno ao Chile, onde veio a falecer o seu marido, Maria Graham foi convidada pelo Imperador Dom Pedro I, quando de sua passagem pelo Rio de Janeiro, a exercer as funções de educadora da futura Rainha de Portugal, D. Maria da Glória, então com cinco anos de idade, o que lhe fez retornar ao Brasil. Nesta mesma viagem, em passagem por Pernambuco, encontrou novamente a província em armas, com o seu porto bloqueado pela armada real comandada por Lord Cochrane. Na ocasião, serviu ela de intermediadora entre os revoltosos da Confederação do Equador de 1824, chefiados por Manuel de Carvalho Paes de Andrade que ela havia conhecido quando de sua primeira passagem pelo Recife em 1821, e o Lord Cochrane, comandante inglês a serviço de Dom Pedro Icom quem travara amizade no Chile. [9] Já na Inglaterra, publicou Jornal of a voyage to Brazil and residence the during the years 1821, 1822, 1823, by Maria Graham. London: Longman, 1824. 324 p. il. Deixou ela um volume anotado depois adquirido por Oliveira Lima que, em artigo na Revista do Instituto Arqueológico Pernambucano v. 12, 1906, “Mrs. Graham e a Confederação do Equador”, também publicado n’ O Estado de S. Paulo, em 27 de novembro do mesmo ano, trata desses acréscimos da autora para uma segunda edição. As anotações de Maria Graham aparecem na edição de língua portuguesa, Diario de uma viagem ao Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia – Editora da Universidade de São Paulo, 1990. 425 p. il. James Henderson (1783-1848), viajante e diplomata inglês que esteve no Brasil de 1819 a 1821, deixa interessante estudo com base na Corografia Brasílica de Ayres Casal (1817), sob o título History Brazil: comprisings its geography, commerce, colonization, aboriginal, inhabitants. London: Longman, Hurst, Rees, Orme, and Brow, 1821. 28 litografias e dois mapas. Também em imagens, além das ilustrações contidas nas obras de alguns viajantes a exemplo de Koster, Maria Graham e Henderson, o panorama da vida brasileira serviu de tema às 151 cromolitografias de Jean Baptiste Debret (1768-1848), artista francês que viveu no Brasil de 1816 a 1831, que as reuniu em Voyage pittoresque et historique au Brésil. Paris: Firmin Didot frères, 1834-39. 3 v. A tradução em língua portuguesa é de Sérgio Milliet (1898-1966), com várias edições: Viagem pitoresca ao Brasil.Belo Horizonte / São Paulo: Ed. Itatiaia/Ed. da Universidade de São Paulo, 1989. 3 v. As pranchas litográficas eram acrescidas de cuidadosas notas descritivas com informaçõessobre tipos da população, inclusive negros das várias nações africanas e índios das várias tribos, ofícios, instituições, relações familiares, costumes, festas religiosas e profanas, num panorama sem precedentes retratando a vida do Brasil no início do século XIX. As aquarelas e desenhos não constantes da primeira edição de Firmin Didot (1834) foram reproduzidospor R. de Castro Maia em edição datada de Paris, 1954, reunindo um total de 139 pranchas coloridas. Outro viajante que pintou com cores firmes o Brasil de então foi Johan Moritz Rugendas (1802-1858), quando da publicação de in Malerische reise in Brasilien. Paris: Engelman & cie., 1835. 176 p. il.; edição também publicada em francês sob o título: Voyage pittoresque dans le Brésil, par Maurice Rugendas; traduit de l’ allemand par Mr. de Golbery… Paris: Mulhouse, Engelman & Cie., 1853, reunindo 100 litografias e um texto explicativo da maior importância para o estudo das características físicas da população, em especial dos traços, hábitose costumes das populações negra e índia, como também dos mulatos e demais mestiços que vieram formar aquilo que hoje chamamos de raça brasileira. A tradução em língua portuguesa é de Sérgio Milliet, Viagem pitoresca através do Brasil. São Paulo: Liv. Martins Editora, 1940. 205 p. il., seguindo-se de várias reedições. Dois cientistas alemães, Johan Baptist von SPIX e Karl Friedrich Philip von MARTIUS, realizaram uma grande viagem pelo interior do Brasil, entre 1817 e 1820, percorrendo as províncias do Rio de Janeiro, São Paulo, seguindo através do Rio São Francisco por Minas Gerais e Bahia, chegando ao porto de Juazeiro, ingressando assim pelo Sertão de Pernambuco, adentrando-se pelo Piauí e Maranhão, anotando e desenvolvendo observações de grande importância para o conhecimento das populações rurais do início do século XIX, tendo publicado Reise in Brasilien auf Befehl Sr. Majestät Maximilian Joseph I etc. Müchen: Gerdruckt bei M..Lindauer, 1823. 3 v. il.;seguindo-se de edições outras, inclusive a inglesa de H. E. Lloyd, Travel in Brazil, 1817-1820.2 v. Londres: Longman & Co., 1824.A tradução em língua portuguesa é de Lúcia Furguim Lahmeyer, com notas de Basílio de Magalhães, Viagem pelo Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938. 2 v. 2. Ainda viajantes Os viajantes, como já tivemos ocasião de fazer referência, continuaram a ser os grandes cronistas da vida brasileira, traçando em suas obras aspectos preciosos da terra e da gente nem sempre observados pelos cronistas e historiadores nacionais. O norte-americano Daniel Parish Kidder foi um desses viajantes que, nascido em Derien N.Y. em 1815 e falecido em Evanston, Illinois, chegou ao Brasil em 1837, como missionário metodista a serviço da Sociedade Bíblica Americana. No Brasil estabeleceu-se por longo tempo, viajando pelas províncias do Rio de Janeiro e São Paulo e províncias do Norte, o bastante para escrever Sketches of residence and travels in Brazil, embracing historical and geographical notices of the Empire and its several provinces. London: Wiley & Putman, 1845. 2 v.. 369 p. + 404 p. il. com 32 litografias. Em parceria com o também missionário J. C. Fletcher, que residiu no Brasil entre 1851 e 1865, veio a publicar um dos maiores clássicos da crônica literária dos viajantes, citado obrigatoriamente por todos os autores norte-americanos que escreveram sobre o Brasil na segunda metade do século XIX: Brazil and the brazilians, portrayed in historical and descriptive sketches. Philadelphia; Childs & Peterson, 1857. 630 p. il. com 150 litografias, que veio a serobjeto de dezenas de reedições. No Brasil, as duas obras foram traduzidas por Moacir N. Vasconcelos e Elias Dolianti, sendo publicadas sob os títulos: Reminiscências de viagense permanência no Brasil. São Paulo: Martins, 1940-43, e O Brasil e os brasileiros: esboço histórico e descritivo. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1941. 2 v. Brasiliana, v. 205. Outro viajante de sucesso foi George Gardner (1812-1849), autor de Travels in the interior of Brazil, principally through the northern provinces and the gold and diamond districts, during the years 1836-1841. London: Reeve, Brothers, 1846.562 p. il.; dois anos depois traduzido para o alemão, Reisen im inneren Brasiliens etc.Dresden und Leipzig: Arnoldische Buchhandlung, 1848. Diretor do Jardim Botânico do Ceilão (atual Sri Lanka), o autor percorreu as províncias do Norte do Brasil e os distritos das minas de ouro e diamantes, recolhendo espécimens e fazendo importantes anotações sobre a paisagem e costumes. Em 1849, ano do seu falecimento,sua obra teve uma segunda edição em língua inglesa e, quase um século depois, foi traduzida para o português por Albertino Pinheiro e publicada dentro da série Brasiliana (v. 223), Viagens pelo Brasil. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1942. 468 p. O desenvolvimento do Brasil, na segunda metade do século XIX, é visto por William Hadfield, um secretário de uma companhia de navegação que visitando por diversas vezes os portos brasileiros, entre 1821 e 1876, nos proporciona uma visão do progresso e mudanças na vida urbana de então. No seu primeiro livro, Brazil, the River Plate, and the Falkland Islands etc. London: Longman, Brown, Green, and Longmans, 1854. 384 p. il., ele diz ser residente no Brasil há muitos anos, traçando importantes aspectos da cidade do Recife em 1821 e comparando-a com a de então (p. 103). Graças ao sucesso obtido com a primeira edição, o autor fez publicar novas edições do seu livro, narrando suas observações entre 1853 e 1868, Brazil and the River Plate. London: Bates, Henry and Co., 1869. 271 p. il.; seguindo-se de outra edição com o mesmo título trazendo anotações das viagens entre 1870-76 (London: Ed. Stanford, 1877. 327 p. il.), de grande interesse para a historiografia brasileira no segundo reinado. Apesar de sua importância, a obra nunca foi traduzida para a língua portuguesa. O consagrado explorador inglês, Sir Richard Francis Burton (1821-1893), que em memorável expedição descobriu as nascentes do Rio Nilo, é autor de mais de 50 livros, inclusive as traduções para a língua inglesa de as Mil e uma noites e Os Lusíadas.Transferiu-se para o Brasil em 1865, na qualidade de cônsul britânico em Santos (São Paulo). Em 1867, recebe permissão do seu governo para uma viagem de reconhecimento através do Rio São Francisco, chamado por ele de o “Mississipi brasileiro”, tendo para isso cruzado as províncias do Rio de Janeiro e, no trecho do curso do grande rio, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Alagoas, onde encerrou sua viagem no porto de Penedo. As suas observações constam da obra Highlands of the Brazil. London: Tinsley brothers, 1869. 2 v. il.. O seu precioso livro veio a ser traduzido para o português por Américo Jacobina Lacombe, Viagem aos planaltos do Brasil ,mas suaedição integral em três volumes, inexplicavelmente,levou 42 anos para ser publicada pela Companhia Editora Nacional, dentro da série Brasiliana: v. 197 (1941), v. 375 e 376 (1983). A obra encontra-se assim dividida: Do Rio de Janeiro a Morro Velho( v. l); Minas e os mineiros (v. 2) e O Rio São Francisco (v. 3). A visão econômica do Brasil , entre 1868 e 1873, numa viagem pelo interior do Brasil, através do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, rios São Francisco e Tocantins, nos é trazida por James W. Wells, engenheiro ferroviário, autor do livro Three thousand miles through Brazil from Rio de Janeiro to Maranhão etc. London: Sampson Low, Marston, Seale & Rivington, 1886. 2 v. il., que mereceu a seguinte observação de Gilberto Freyre, in Ingleses no Brasil p. 65: “seu livro rivaliza com o de Bigg-Wither e excede o de Dent em agudeza de observação e riqueza de informação sobre o Brasil do tempo de D. Pedro II”. – Não existe tradução para o português. A visão da Amazônia veio despertar a atenção dos leitores norte-americanos, quando da publicação do livro do casal Elizabeth Cary e Louis Agassiz (1807-1873), A journey in Brazil. Boston: Ticknor and Fields, 1868.540 p. il. Trata-se da narrativada famosa Thayer expedition (1865-66), que viajou do Rio de Janeiro para o norte chegando à Amazônia, dirigida pelo naturalista suíço-americano Louis Agassiz, professor em Cambridge e Havard, que logo conquistou o público leitor dos Estados Unidos. O seu sucesso editorial proporcionou uma bela edição ilustrada em francês – Voyage au Brésil. Paris: Librairie de L. Hachette et Cie., 1869. 532 p. il. com 54 gravuras e três mapas –, seguindo-se de duas edições em espanhol – Viage al Brasil por Agassiz y su esposa. Barcelona: Tipo-Lithográfico de F. Nascente, 1890 e 1892. No Brasil, a obra foi traduzida para o português por Edgard Süssekind de Mendonça: Viagem ao Brasil, 1865-1866. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1937. 654 p. Brasiliana, v. 95. Enquadrado nesta série de viajantes, podemos situar ainda o jornalista Max Leclerc, correspondente francês mandado ao Brasil pelo Journal dez Débats após a proclamação da República em 1889, que transformou sua correspondência em excelente material de observação sobre a vida do País naquele final de século, reunindo-a no livro Lettres du Brésil.Paris: Librairie Plon, 1890. 268 p. Nos capítulos daquela edição, o autor trata de forma apaixonada dos assuntos de interesse em sua missão: A Revolução; O início da República; A vida no Rio de Janeiro; São Paulo e os paulistas; Usos e costumes; As instituições; Questões econômicas. Sua obra foi traduzida e anotada para o português por Sérgio Milliet: Cartas do Brasil. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1942. 190 p. Brasiliana, v. 215.
[1] – SILVA, Leonardo Dantas. Gândavo e a sua História. In: GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. Tratado da terra do Brasil & história da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil 1576. Recife: Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana, 1995. Edição conjunta, organização e apresentação de Leonardo Dantas Silva. (Série Descobrimentos, 3) p . X. [2] STADEN, Hans. Warhaftige Historia und beschereibung eyner Landtschaff der Wilden etc. Marburg, 1557. [3] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil: Historiografia colonial. São Paulo: Editora Nacional, 1979. p. 15. [4] – MORAES, Rubens Borba de; BERRIEN, William. .Manual bibliográfico de estudos brasileiros. Rio de Janeiro: Gráfica Editora Souza, 1949. p. 592-627. [5] KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil.2. ed. Prefácio e tradução de Luís da Câmara Cascudo. Recife: SEC; Departamento de Cultura., 1978. 480 p. il.(Coleção Pernambucana, 1ª fase, v. 17). Inclui cromolitografias e mapas da 1. ed. Londres, 1816. [6] CARVALHO, Alfredo de. Biblioteca Exótico-Brasileira. v. III. Rio de Janeiro, 1930. p. 104-108. [7] CASCUDO, Luís da Câmara. inKOSTER (op. cit.). 2. ed. Prefácio. p. 19. [8] TOLLENARE, L. F. de. Notas dominicais. Tradução de Alfredo de Carvalho. Apresentação de José Antônio Gonsalves de Mello. Prefácio de Oliveira Lima. 3. ed. Recife: SEC. Departamento de Cultura, 1978. 294 p. il. (Coleção Pernambucana, 1ª fase, v. 16). “Notas” sobre Pernambuco e sobre a Bahia. Inclui desenhos do autor relativos a Pernambuco e à Bahia publicados na edição de Leon Bourdon, Notes dominicales. Paris: Presse Universitaire de France, 1971-73. 3v.
[9] ANJOS, João Alfredo dos. Viajantes ingleses no Nordeste do Brasil no século XIX. Apresentação do catálogo da exposição. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1991.
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Fonte:www.fundaj.gov.b
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