Antônio do Carmo Ferreira .’. (*) A história da conquista da liberdade é escrita a tinta sangue e à custa de muito sacrifício. Oualquer que seja o significado de liberdade, embora aqui me refira a que tem a ver com a emancipação política, com a soberania. No Brasil foi assim. Nas colônias espanholas nossas vizinhas, também foi assim. A independência se construiu com a vida de idealistas e heróis que se sacrificaram em nome de uma pátria para seu povo. Não se passe a ilusão de que a independência nos tenha vindo mansa e pacificamente. Não. O nosso sofrimento foi muito grande. A qualquer sonho, a reação da coroa foi impiedosa e imediata. Bernardo de MeIo, em 1710, deu o primeiro grito de república nas Américas, aqui em Olinda, no senado da câmara. Não era uma revolução. Era um sonho só… Terminou seus dias no calabouço do Limoeiro, sede da metrópole. Felipe dos Santos também teve suas idéias libertárias. Ganhou a morte com o seu corpo amarrado a cavalos, dilacerado nos calçamentos de sua cidade. Depois, ainda em Minas, o grupo da “Inconfidência” que falou alto, marcando fundo a história da formação da pátria. Não chegou a realizar o sonho, mas legou às gerações pósteras o exemplo de quanto é sublime lutar pela liberdade, ressaltando a figura de Tiradentes – Joaquim José da Silva Xavier – enforcado e seu corpo, em pedaços, espalhado na região. Todavia, Pernambuco superou a todos em termos de sacrifício, decerto porque tenha ido mais longe e mais profundo na busca de uma pátria para os brasileiros. A Revolução de 1817 não era apenas um feito pela independência. Era a emancipação política com república. Uma pátria para os brasileiros e por eles governada. Resultado imediato, segundo o martirológio escrito pelo padre Martins em 400 páginas (Mártires Pernambucanos, edição de 1853), 628 pessoas oprimidas e sacrificadas.
A Revolução Pernambucana de 1817 teve seu inicio no século anterior, a partir do Areópago de ltambé que Arruda Câmara e vários outros brasileiros intimoratos implantaram, vizinho a Goiana, nos limites com a Paraíba.
6 de março de 1817 – foi o produto do que se semeou em ltambé, no Areópago. A liberdade doutrinada por Maçons, sob a orientação de Arruda Câmara que se formara em medicina e na “arte real” em Montpellier na França. Os sonhos de liberdade voltaram com ele que fundou o Areópago em 1796, e que teve as suas portas cerradas em 1801, para que, em seguida, já multiplicado, ressurgisse nas “academias” (Suassuna dos Cavalcanti de Albuquerque), nas “universidades” do Recife e lgarassu, no Seminário (Olinda de Dom Azeredo Coutinho), nos engenhos e nas vilas.
06 de abril – como estava preestabelecido, não suportou a espera. Antecipou-se para 6 de março, eclodindo a revolução um mês antes, e, por isto, perdendo a participação dos baianos e cariocas.
A república sediada em Pernambuco não ficou no sonho. Implantada, presidida por Maçom, auxiliada por Maçons, foi uma realidade por setenta dias, sendo-lhe crudelíssima a vingança do Rei: humilhação da família pernambucana, prisões e calabouço, matança dos revolucionários inclusive sacerdotes, e mais a mutilação do território da província. Pernambuco perdeu as planícies férteis que vieram a ser o Estado de Alagoas.
A revolução não se exauria aí. O fermento das torturas fazia crescer o pão-de-ló do sonho de pátria. Em 1824, novas lutas, a Confederação do Equador. De pronto outras vinganças. Tão cruéis quanto as anteriores, e com elas completa-se o martirológio, onde se deu o sacrifício de Caneca, espingardeado, porque os carrascos temeram enforcar o Frei, mesmo chicoteados. Como os Braganças achassem pouco o sacrifício e o sangue de tantos brasileiros, outra vez esquartejaram a Província. Presentearam à Bahia os vales fecundos da Comarca de São Francisco.
A pátria dos brasileiros se construiu, porém, como se percebe, jamais se pagou, por demandar os caminhos da liberdade.
*- Grão-Mestre do Grande Oriente Independente de Pernambuco, Presidente por sucessivos mandatos da ABIM – Associação Brasileira da Imprensa Maçônica e Membro de várias academias maçônicas de letras no Brasil.
fonte: http://www.infonet.com.br/oreunificador/o_aeropago_de_itambe.htm |