A invasão holandesa
No início do século XVII, o Brasil era colônia de Portugal. Sua extensa faixa litorânea dificultava a ocupação e defesa do território, possibilitando a invasão estrangeira. Foi assim que, em 1630, os holandeses estabeleceram-se no nordeste brasileiro. Em 15 de maio de 1645, no Engenho de São João, de propriedade de João Fernandes Vieira, os insurretos decidiram pegar em armas em nome da Liberdade Divina e, oito dias depois, os 18 líderes assinaram o “Compromisso Imortal do Ipojuca… de lutar pela restauração de nossa Pátria…”. Estava selado o destino que buscava pôr fim aos horrores, às cobranças extorsivas e aos confiscos de propriedades dos senhores de engenho impostos pelo invasor. A expulsão definitiva dos invasores do saliente nordestino ocorreu em 27 de janeiro de 1654. Naquela oportunidade, foi assinada a rendição incondicional na Campina da Taborda, onde foram entregues as 73 chaves da cidade Mauricéia ao General Francisco Barreto de Menezes – comandante das tropas patriotas –, pondo fim a 24 anos de ocupação holandesa. Essa foi a primeira vez que os habitantes do Brasil – mazombos (filhos de portugueses nascidos no Brasil), índios nativos e negros – formaram os terços das três raças, unindo-se por um objetivo comum: lutar pela liberdade, na chamada Restauração Pernambucana. No Monte das Tabocas, hoje terras do Município da Vitória de Santo Antão (PE), os patriotas, com 1.200 homens, 200 armas de fogo, foices, paus tostados, chuços e flechas lutaram contra 1.900 holandeses fortemente armados, equipados e adestrados. Aos invasores foi imposta importante derrota, no dia 03 de agosto de 1945, tornando viável a campanha militar da Restauração. Com a vitória, Antônio Dias Cardoso ficou conhecido como o mestre das emboscadas. Os holandeses sobreviventes seguiram para Casa-Forte, onde novamente foram derrotados, agora com a participação dos terços negros de Henrique Dias e dos índios de Felipe Camarão. As casas-fortes holandesas de Cabo de Santo Agostinho, de Pontal de Nazaré, Serinhaém, Rio Formoso, Porto Calvo, Forte Maurício/Penedo caíram como que por efeito dominó; e Olinda foi recuperada. Os patriotas, apoiados em linha de redutos e estâncias, submeteram os holandeses a rigoroso cerco. A falta de alimentação levou os invasores a buscarem apoio no litoral norte, atacando as plantações de mandioca nas vilas de São Lourenço, Tejucupapo e Catuama. Em 24 de abril de 1646, ocorreu a batalha de Tejucupapo, na qual as mulheres expulsaram os famintos invasores, humilhando-os em mais uma derrota. Com esse feito, ficou registrada a participação da mulher brasileira na luta pela restauração do território. Os batavos resolveram romper o cerco em 19 de abril de 1648, dirigindo-se para o Cabo de Santo Agostinho, quando ocorreu a primeira batalha dos Guararapes; quase um ano depois, em 19 de fevereiro de 1649, aconteceu a segunda batalha. Foram alcançadas importantes vitórias pelos patriotas nas duas batalhas. Dessa forma, ficou traçado o destino dos invasores no Brasil, os quais ficaram enclausurados no Recife até 1654. No dia 20 de janeiro de 1654, caíram os últimos baluartes da defesa holandesa, o que impôs a assinatura de um tratado de rendição. Após 62 horas de negociação, a cidade de Recife foi desocupada e o invasor expulso. Estava concluída a Restauração Pernambucana.
Esse fato histórico teve importância significativa na vida brasileira. Ele marcou o alvorecer de um sentimento de nacionalidade que, mais tarde, iria contribuir para a proclamação da Independência. Também permitiu o incremento da miscigenação entre o branco, o índio e o negro na formação da raça brasileira. E, no campo militar, fez surgir a “Guerra Brasílica”, assim chamada por utilizar os princípios da guerrilha e da emboscada, até então desconhecida pelos exércitos europeus. Essa forma de lutar aliava a tática indígena de caçar à astúcia portuguesa e à bravura do negro, conduzindo-os a desenvolverem uma doutrina militar brasileira, decisiva, que traduziu-se em vitória nos campos de batalha, permitindo a definitiva expulsão do invasor do território brasileiro.
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