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História do Recife |
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por Leonardo Dantas |
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Ponte da maxambomba, vendo-se o casario da Rua da Aurora
Recife,1914 / Fotografia de Benício Dias /acervo FJN
O RECIFE, a PAISAGEM que FASCINA
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A ligação do Recife com as águas é uma constante em todos os tempos. Não somente poetas e viajantes mostraram-se fascinados com a sua paisagem, mas também artistas que, desde o século XVII, souberam divulgar a luminosidade das cores de sua paisagem em outros continentes. Rios e pontes são mostrados no álbum VI Ansichten von Pernambuco und seiner Ungebung (Série de seis vistas de Pernambuco e seus arredores), impresso em l848 pela oficina de J. Braunsdorf de Dresden (Alemanha). Outra série de vistas do Recife e seus arredores tem o traço de Emil Bauch reunindo doze cromolitografias impressas na Alemanha em 1852; a esta coletânea segue-se o panorama de Friedrich Hagedorn (1814-99), dividido em três estampas desenhadas da torre leste da igreja do Divino Espírito Santo em 1855. A seqüência de vistas enfocando a paisagem do Recife parece não ter mais fim, tal a quantidade de gravadores, pintores e fotógrafos que, em diferentes épocas, documentaram com esmero este cenário. Vale, no entanto, relacionar as trinta e três vistas desenhadas por Luís Schlappriz, que viveu no Recife entre 1858 e 1865, reunindo sob o título Memória de Pernambuco ( Álbum para os amigos das artes 1863, e o Álbum de Pernambuco e seus Arrabaldes, com cinqüenta e oito cromolitografias elaboradas em 1878 por Luís Adam Cornell Krauss, alemão que viveu no Recife entre 1877 e 1904, quando veio a falecer em vinte e cinco de janeiro. Este último foi litografado com base nas fotografias das objetivas de João Ferreira Vilela, Alfredo Ducasble, dentre outros que militavam nesta arte no Recife. Ambas as publicações foram impressas nas oficinas de Francisco Henrique Carls, outro alemão que, chegado ao Recife em 1859, aqui permanece até 1909, quando veio a falecer em quinze de setembro. Para José Antônio Gonsalves de Mello, in Ingleses em Pernambuco, Recife 1972, foi Francisco Henrique Carls “quem vulgarizou no Brasil e no exterior a fisionomia urbana do Recife. Vulgarização no sentido de colocar ao alcance de todos, através da litografia, cenas da cidade, dos seus arrabaldes, dos seus edifícios públicos e muitos dos particulares. Quando se organizou no Recife o material pernambucano para figurar na exposição Sul-Americana de Berlim, em 1886, é um dos álbuns de litografias de Carls que vai dar aos alemães ‘uma idéia da beleza da nossa cidade’, segundo registrou a comissão organizadora (Diario de Pernambuco, 21 de agosto de 1886 e 9 de março de 1887)”. Com a popularização do bilhete postal, no final do século XIX, surgem várias coleções de vistas do Recife, algumas reunidas em álbuns, como a editada pelo livreiro Ramiro Moreira da Costa (1855-1932) para comemorar o quarto centenário do descobrimento do Brasil, em 1900, impressa na oficina de Louis Glases na cidade alemã de Leipzig, sob o título Álbum de Pernambuco. O Recife não uma cidade que agrade ao forasteiro à primeira vista, faz-se necessário penetrar no seu âmago, na alma alegre de sua gente, para entender as suas características únicas e a formação do ideário nativista do seu povo. Quando esteve no Recife, o escritor Alceu de Amoroso Lima, que se assinava sob o pseudônimo de Tristão de Athayde, fez observações das mais interessantes em artigo, intitulado Sereia dos Trópicos, publicado no jornal A Tribuna, edição de 23 de março de 1957. Para entender o Recife, observa ele, “foi preciso pôr o pé em terra e, sobretudo, abrir as janelas do sobrado sobre a foz do rio para que um novo alumbramento se produzisse e a cidade singular de outrora revelasse, com a graça maliciosa de que entreabre um manto, o que guardava de cantos secretos e renovados. Não mais de fora para dentro, como outrora, mas de dentro para fora é que se podia já agora compreender e tocar de perto o encanto sem par dessa sereia tropical. Encanto é coisa que as palavras não exprimem. Como não exprimem fisionomias ou mesmo paisagens. São quando muito aproximações e notas à margem. Os sentidos são os únicos que podem reproduzir “el embrujo” das coisas, das cidades ou das pessoas. E como a presença é uma síntese dos sentidos e da inteligência, só ela nos dá a sensação do encanto e do desencanto de a tentarmos exprimir verbalmente. O do Recife é feito de contradições: terra e mar, aristocracia e democracia, finura e espírito de bravura de caráter, graça florentina e violência sertaneja, riqueza e miséria”. O Recife é uma eterna paixão para forasteiros e naturais que, como o alagoano Ledo Ivo, estão sempre a declamar: Amar mulheres, várias, Amar cidades, só uma, o Recife E assim mesmo com as suas pontes, e os seus rios que cantam, e seus jardins leves como sonâmbulos
e suas esquinas que desdobram os sonhos de Nassau.
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Fonte:www.fundaj.gov.br
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