O dono da música |
No Recife a Academia Pernambucana de Música lembra que, no próximo ano, acontecerá o centenário de nascimento de Nelson Ferreira, esse monstro sagrado da música pernambucana, autor de clássicos inesquecíveis, como Evocação n.º 1, Come e dorme, Gostosão, Gostosinho e Gostosura, Chora Palhaço, Juro, dentre outros. Nelson Heráclito Alves Ferreira, pernambucano do Bonito, nasceu a 9 de dezembro de 1902, veio a ser um dos donos da música em Pernambuco; posição ocupada na segunda metade do século XIX por Francisco Libânio Colás e, nos primeiros anos do século XX, por Euclides Fonseca. O seu reinado teve início, ainda na primeira década deste século, nos pianos dos cinemas onde conquistou a sua consagração como autor das mais belas valsas de sua época. Grande parte de sua obra para piano foi editada pela Secção de Música de Dantas Bastos & Cia., dentro de sua Coleção Mauricéia, então situada na Rua Nova nº 95, depois sucedida pela Casa Parlophon. Como regente dessas orquestras (piano, dois violinos, sete clarinetos, violoncelo, contrabaixo, flauta, trompa, trompete, bateria), Nelson reinou no seu tempo. Foi como pianista que ele notabilizou-se com a composição de valsas, algumas até recebendo letras e sendo gravadas por gente famosa, como Francisco Alves, que em 1939 gravou Diga-me e Minha adoração. Mas foi para o Carnaval que Nelson Ferreira veio a ser o mais fértil dos compositores pernambucanos, sendo constante a sua contribuição, desde os tempos de Borboleta não é ave, composta em 1922, em parceria com J. Borges Diniz, para o Bloco Concórdia. Foi esta a primeira marcha-pernambucana preservada em acetato, em disco lançado em 1923, numa gravação do Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) para o selo Odeon nº 122384, acompanhado pelo Grupo do Pimentel (Ernesto Pimentel). Nelson Ferreira foi a grande mola mestra de animação do carnaval não só do Recife como de toda a região, graças a sua participação na direção artística do Rádio Club de Pernambuco, onde era responsável pelas chamadas “Revistas Carnavalescas” e pela importância de sua grande orquestra de ritmos carnavalescos, que contava com o concursos dos mais importantes instrumentistas da região. Pela etiqueta Mocambo, onde estreou em 1955 com o frevo de rua Come e dorme (nº 15.000), Nelson Ferreira fez sucesso com a série de LPs, gravados por Claudionor Germano em 1959, O que eu fiz e você gostou (LP 40039) seguindo-se do O que faltou e você pediu. Suas composições foram reunidas pelas mesma gravadora nos LPs: Meio Século de Frevo Canção, Meio século de frevo de bloco, Meio século de frevos de rua e Meio século de valsas; gravados em 1973 dentro da série 50 anos em sete notas. Mas o seu maior sucesso ficou por conta de Evocação, uma marcha-de-bloco composta para o carnaval de 1957, que reinou soberana nas ruas e salões, cantada a plenos pulmões por crianças e velhos, mulheres e homens, a relembrar velhos carnavais dos anos vinte, onde pontificavam as figuras lendárias de Filinto, Pedro Salgado, Guilherme e Fenelon, quando das saídas dos blocos carnavalescos mistos das Flores…, Andaluzas …., Pirilampos …, Apôis-Fum…. Evocação conquistou todo o Recife, espraiou-se por outras cidades do Nordeste e veio tomar conta do Rio de Janeiro onde foi absoluta naquele carnaval, desbancando sucessos daquele ano, como a marchinha carioca de João de Barro, Vai com jeito vai, e o samba do Dorival Caymmi, Maracangalha, recebendo o seguinte comentário de Edigar de Alencar, em seu livro O Carnaval Carioca através da música: “Um frevo, do experimentado compositor pernambucano Nelson Ferreira, desperta grande interesse, embora Evocação, fiel ao título, fosse poética reminiscência do velho Recife e de seu famoso e pitoresco carnaval”. Evocação foi o primeiro de uma série de seis frevos-de-bloco de Nelson Ferreira, com o mesmo título, merecendo o seguinte comentário do pesquisador Félix de Athayde no fascículo nº 44 da série Música Popular Brasileira, publicado pela Editora Abril em 1972: “Evocação nº 1 – Foi sucesso em todo o Brasil durante o segundo semestre de 1956, estourou no carnaval de 57 e hoje é considerado um clássico de nossa música popular. Para compor este frevo-de-bloco, Nelson Ferreira inspirou-se nas famosas figuras dos blocos da década de 20, hoje desaparecidos.”. Além de alegres e contagiantes frevos-canções, Nelson Ferreira nos deixou ao morrer, em 21 de dezembro de 1976, os mais belos frevos instrumentais do nosso Carnaval: Gostosão (1949), Gostosinho (1950), Vem frevendo (1951), Come e dorme (1952), Isquenta muié (1954), Carro-chefe (1958), Qual é o tom (1958), Porta-bandeira (1959), Casá! Casá! (1955), Frevo no Bairro de São José (1960), Frevo no Bairro do Recife (1961), Quarta-Feira ingrata (1964), dentre muitos outros |
Fonte:www.fundaj.gov.br
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