O pintor George Barbosa inaugura exposição de cenas urbanas amanhã, em Boa Viagem

Kéthuly Góes
Da equipe do DIÁRIO
Vem aí mais uma série de cenas urbanas do artista plástico George Barbosa.
Longe da agitação londrina, do ar bucólico de Paris e do vai-e-vém nas ruas
de São Paulo, ele volta os olhos para o cotidiano de algumas cidades nos
Estados Unidos. O resultado de um mês de observação, estudos e
experimentações de técnicas e cores, será revelado a partir desta quarta-feira,
com a inauguração da mostra América, no espaço de exposições do Citibank,
em Boa Viagem.
A abertura está programada para as 20h, quando o público terá acesso às 22
obras inspiradas no cotidiano dos parques e ruas da Flórida, New Orleans,
Massachussets, Califórnia e Nova Iorque. São treze óleos sobre eucatex, sete
pastéis a óleo sobre papel e duas serigrafias em técnica mista. Entre eles,
cinco recriações de pinturas clássicas, feitas por artistas norte-americanos.
Os homenageados foram Edward Hopper, Mary Cassat, Grant Wood, John
Singer Sargent e Berning-Haus.
De cada um, George Barbosa selecionou um trabalho. Faz referência à
pintura realistados anos 30 (Hopper), ao figurativo inspirado no
impressionismo francês (Cassat), ao regionalismo americano (Wood e
Berning-Haus) e aos jardins como cenário para figuras humanas (Sargent). Os
jardins são, inclusive, um dos temas explorados com sucesso pelo pintor, em
mostra individual (1993), no Recife.
Sobre os trabalhos que desenhou ao ar livre, pintou em pastel ou trouxe na
memória para realizar no ateliê, no bairro das Graças, pode-se dizer que há
forte intenção em fugir de cenários tipo cartão postal. George Barbosa
procurou revelar o inusitado das ruas, a tradição nas comunidades, paisagens
que se mostraram reveladoras, seja pela forma, seja pela possibilidade de
trabalhar com as cores.
ARTE NA RUA
“É bem interessante viver essa experiência de pintar ao ar livre”, adianta o
artista. “As pessoas se interessam, dão palpite, conversam com a gente.
Você acaba envolvido pelo cotidiano da cidade. Outra descoberta interessante
foi sobre a imagem negativa que sempre alimentei do país, graças ao
posicionamento político e a relação deles com outros países
latino-americanos. A América tem muitas questões a resolver, de ordem
política e econômica, naturalmente, mas lá vi eficiência, alta produtividade e o
povo vivendo uma democracia real”.
Para a mostra América, George Barbosa apresenta uma paisagem outonal,
para falar da cidade de Concord (Massachussets); mostra o passeio de
charrete de uma família amish (judeus ultraconservadores), em Ohio;
mergulha no berço do jazz, no French Quartier (New Orleans); do lado oeste,
explora cores fortes para registrar o Grand Canyon; expõe à densa neblina a
Golden Gate (Califórnia); envereda pela tradição gastronômica que
internacionalizou a Apple Pie (torta de maçã); de volta ao leste, recria em
pastel a estátua da Liberdade e o barco solitário na Jamaica Bay (Nova
Iorque). Tudo isso antes de chegar à Flórida, onde se inspira na Water Tower
(Torre de Água), em residências floridas em Coral Gables, na Ocean Drive e
nas ruas barulhentas e coloridas de Miami.
Ao observar as obras, a colecionadora e produtora de arte Margareth
Ambrososi, de Nova Iorque, comentou que “os traços e as cores, associados
ao movimento urbano criado por George Barbosa, conseguem entusiasmar,
especialmente no trabalho que capta o Soho, em Nova Iorque”. Madalena
Santos, também colecionadora, com residências no Brasil e Estados Unidos,
revelou que “o quadro pintado pelo artista sobre Washington é capaz de
reproduzir na tela o calor da atmosfera pernambucana e a magia vibrante das
cores de Olinda”.
SERVIÇO
América, mostra de pinturas de George Barbosa
Onde:
Citibank (av. Conselheiro Aguiar, 2034 – Boa Viagem. Fone: 465.1151)
Quando:
1 a 30 de julho
Movimento das ruas inspira o artista
A temática urbana e social vem sendo explorada por George Barbosa desde
89, quando exibiu uma série de pinturas sobre São Paulo. A mostra esteve
em cartaz no Museu do Estado de Pernambuco. “Trabalhei muito com
cenários da avenida Paulista, mas sempre havia um motivo especial que
ganhava maior destaque na pintura, como um vendedor de doces, uma
floricultura. Além deles, fiz parques e jardins”, lembra.
Em 1991, foi a vez da capital britânica ser observada e recriada pelo pintor
pernambucano. A mostra London Calling – Paisagens de Londres apresentou
o cenário histórico e cosmopolita da cidade. No mesmo espírito da mostra
anterior, George Barbosa fugiu de imagens exploradas pelos visitantes
comuns. Apostou no colorido e na agitação natural das ruas londrinas. Pintou
entradas de museus, o Teatro da Ópera, a Tate Gallery, pubs.
Foi o marchand Laurindo Pontes quem articulou a terceira exposição de
caráter urbano do pintor. Un Regard sur Paris foi o nome dado à exposição
patrocinada pela Air France, vista nohotel Sheraton Petribu, em 94. Por um
tempo, um escultor francês trabalhou no Brasil, na região do Vale do São
Francisco, e realizou peças para exposição em Paris. Em seguida, George
Barbosa passou uma temporada na capital francesa, pintando ao ar livre.
A viagem aos Estados Unidos aconteceu em abril de 97. A partir de maio, o
artista investiu na produção da coleção América, que agora chega ao público,
no espaço de exposições do Citibank. “A viagem me revelou um contexto
social melhor que o esperado. Compreender outras cidades, da arquitetura à
movimentação nas ruas, é inspirador”, encerra Barbosa.